segunda-feira, 9 de março de 2009

Desembarque dos Excluídos


[Blogagem Coletiva - Inclusão Social]

Aeroporto Internacional do Fim do Mundo. Sinto uma estranha alegria quando recebo pessoas que, após viverem anos a fio como imigrantes ilegais nos Estados Unidos, retornam à pátria natal, fugidos da grave crise que se instalou por lá. Posto que o país natal que os deixou partir, por não ter nada a lhes oferecer a não ser a pobreza, é o mesmo país natal que os abriga de volta. E o que lhes tem a oferecer agora? O mesmo que o país estrangeiro outrora oferecera - Esperança.

Pois é. Estamos em dia de blogagem coletiva. Eu, como um incluído digital e social, prometi para a Ester, do blog Esterança, discutir esse assunto aqui.

Porém, mais uma vez aqui estamos, incluídos digitais e sociais, discutindo o estigma da exclusão. E que temos a dizer? Mais uma vez são os incluídos que discutem a exclusão, os brancos discutindo a discriminação racial sofrida pelos negros e indígenas, ricos discutindo a pobreza. O sentimento geral é que esse tema está exaurido, as idéias são as mesmas de anos atrás, e ninguém põe absolutamente nada em prática.

Ledo engano. A inclusão é um tema que merece estar em nossa pauta diária. Muita evolução se conseguiu nesse sentido, e muitas idéias já foram postas em prática. Algumas muito boas, outras nem tanto. O fato é que muita gente já não está mais parada, estamos caminhando em várias frentes. E você, o que vai fazer? Eis alguns números. Vocês sabiam que:

- Metade da população mundial - isso, mais ou menos três bilhões de pessoas - vivem com menos de dois dólares por dia [ou cinco reais e setenta e dois centavos, pela última cotação que vi na Alfândega]?

- Um quarto da população mundial [cerca de um bi e meio de gente] não teve dinheiro para comer nos últimos doze meses?

- Menos de 1% da água existente no planeta Terra é potável? E pior, cerca de 15% da população da América Latina não tem acesso nenhum a ela?

Os três parágrafos acima foram os que mais demorei para escrever. Haja pesquisa! E posso ter errado, claro. Mas a idéia central não muda. Nós, sim, precisamos mudar e entender que a construção de uma sociedade justa [e não "mais justa", pois a justiça não tem medida, ela ou é ou não] é algo que tem muita pressa. Precisamos parar de agir como os "Passageiros de Elite" da Alfândega, que simplesmente ignoram o mundo que imaginam estar sob seus pés.

O pior tipo de exclusão social é a exclusão da cidadania. É quando o Estado finge que você não existe. Ou pior, o trata como uma sujeira que precisa ser eliminada. Pude ver isso na expressão desses ex-emigrantes ilegais, sem identidade ou nome, sem apoio, sem plano de saúde, sem educação. Aqui retornando de mãos vazias, mas com os olhares repletos de uma esperança que se baseia na cidadania que vieram aqui resgatar.

Vim de uma infância bastante pobre e sofri muito com isso. Mas o crescimento da economia em geral e, principalmente, a criação de empregos beneficiou meus pais e irmãos, e saímos da pobreza. Isso sem precisar de assistencialismos, aos quais jamais recorremos. Talvez isso seja uma dica para as gerações futuras. Não é o tamanho do bolo que vai assegurar uma parcela justa da economia às famílias mais pobres. É como você o divide.

Eu não tenho nenhuma resposta. Apenas fiz perguntas que encontrarão resposta em nossas próprias ações. É nisso que acredito.

21 comentários :

Lygia disse...

Querido...

Antes de mais nada,parabéns por mais um texto brilhante! Sou obrigada a concordar novamente com vc. Porém, lanço uma pergunta. Trabalho e convivo diariamente com os ditos "excluídos". Com o atual assistencialismo do nosso governo, seria interessante para eles saírem dessa condição? O nome do Projeto em que trabalho é SOS CIDADANIA, portanto minha missão é essa. Abrir um leque de opções para essas crianças e suas famílias lutarem por seus direitos e como vc sairem da pobreza, da miséria e terem um futuro digno. Novamente pergunto. Eles querem essa condição? Nosso objetivo maior é fazer com que eles saiam do comodismo que se instalou e lutem por seus direitos à cidadania e à dignidade.Vc não pode imaginar a dificuldade que encontramos para quebrar a barreira imposta por eles. Mas não perco a esperança. Minha luta continua! Nossa luta continua!

Beijos

Unknown disse...

Tenho observado bem o quanto sofre uma pessoa que depende do serviço público de saúde. É deficiente, e o número de docentes, residentes e discentes é menor que os necessitados. Mesmo assim dão conta de tudo. Graças aos anjos da minha família, tenho tido uma assistência excelente, numa Universidade aqui de SP, não reclamo e procuro elucidá-los como é a rotina por tê-la vivenciado durante 60 dias. Bem, vou tentando fazer minha parte, pelos dois lados, educando e ao educar-me para continuar orientando, como uma profissional da saude.
Adorei as informações do texto e a sua volta.
boa semana.
Li

Mari Amorim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
joeldo disse...

Anjo,
Você e eu bem sabemos que o asistencialismo vicia os que esperam por tão pouco.
O que poderá curá-los é, apenas e tão somente, a vontade de chegar ao topo.
Eu não cheguei ainda a lugar nenhum, mas é a eterna busca que alimenta meu viver. Basta ensinar isso.
Beijos

Lisete,
Assim como no texto de ontem, o de hoje nos ensina [se é que sou capaz de ensinar algo] sobre doação.
Sem isso, nada de grandioso poderá se realizar por completo.
É assim que as pessoas de bem constroem um mundo justo, que coexiste com as injustiças do dia-a-dia.
Beijos

Mari,
Obrigado pelo incentivo. Você, mais do que ninguém, sabe o quanto sou incapaz de, sozinho, fazer qualquer coisa. Mas quando nos reunimos, todos, somos capazes sim. Meu conhecimento é limitado. Porém, duas, três, dezenas de cabeças sempre pensam melhor.
Beijos e obrigado por estar sempre aqui.
Joeldo

Andrea disse...

Parabéns pelo texto ! Joeldo, vc falou em cidadania e cidadania pra mim é a base de tudo. Abraços !

joeldo disse...

Andrea, seja bem vinda!
Ser cidadão é ser visto, enxergado, é existir enfim.
Sem isso não há que se falar em igualdade, justiça.
Abraços!
Joeldo

cantinho da Tania disse...

QUERIDO AMIGO LI SEU TEXTO E TENHO QUE ABRIR A MÃO Á PALMATORIA QUE VC FOI BRILHANTISSIMO, VISTO QUE TRABALHEI COM ESTE POVO DURANTE 25 ANOS ,ONDE IMPLORAVAM POR UM DIREITO DIGO "DIRETO POIS A TODOS É COBRADO OS IMPOSTOS PARA QUE SE TENHA UMA CIDADANIA DGNA AO MENOS E NÃO SE IMPLORAR PARA QUE SEJA ATENDIDO E LHE FORNECIDO O TRATAMENTO NECESSÁRIO A MANUTENÇÃO AO MENOS DE SUA SAÚDE PARA QUE POSSA CONTINUAR A PRODUZIR PARA O CRESCIMENTO DE UM PAIS QUE POUCO SE IMPORTA SE ELE ESTÁ VIVO OU MORTO E A ISTO CHAMAMOS DE CIDADANIA,DESCULPE MEU DESABAFO MAS SÃO TANTOS MOMENTOS QUE FORAM SUFOCADOS AO LONGO DESTES ANOS QUE QDO SE COLOCA UM TEMA TÃO POLEMICO Á NOSSA PORTA NÃO PODEMOS NOS CALAR, UM TEMA QUE EM TEMPOS DE POLITICA TORNA-SE MISTER , MAS QUE NADA SE FAZ, E QUE COMO CIDADÃOS QUE SOMOS TEMOS QUE DEFENDER NOSSA PÁTRIA MÃE, QUE SOMENTE EÊ OS DISPAUTÉRIOS QUE SÃO FEITOS EM SEU NOME E NADA PODE FAZER, POIS É GOVERNADA PELA COBIÇA, PELA FALTA DE RESPEITO AO PROXIMO, PELA GANÂNCIA DO PODER E CORRUPÃO DESTE.
SERVI ESTA PÁTRIA MÃE DURANTE 25 ANOS E LUTEI POR ESTE POVO QUE ANSIAVA POR AO MENOS UMA PALAVRA VERDADEIRA, E VI PESSOAS MORRENDO A ESPERAR POR UM EXAME QUE DEVERIA SER FEITO NO MAXIMO EM 24HS E ERA MARCADO PARA DALI Á SEIS MESES, O QUE PODE UM CIDADÃO FAZER COM UM PLANO QUE LHE É IMPUTADO IMPOSTOS EM TUDO , MAS QUE NO MOMENTO EM QUE MAIS PRECISA NÃO TEM VAGA.JO VC FEZ UMA PESQUIZA EXCELENTE QTO AO LEVANTAMENTO DE DADOS, MAS FALTOU O LEVANTAMENTO DE DADOS QTO Á SAÚDE DE NOSSA POPULAÇÃO QUE SONHA E CRÊ QUE VAI MELHORAR EM TEMPOS DE POLITICA, QUE ACREDITA QUE NÃO VAI FALTAR O QUE COMER, O QUE BEBER, O QUE VESTIR. QDO AS VEZES ÁS PESSOAS REVOLTAM-SE QTO AOS IMPOSTOS ESCUTE-LHES UM POUCO , NÃO Á ELITE QUE CHEGA Á SUA ALFANDEGA,POIS ESTES SE TEM DINHEIRO PARA SAIR PASSEAR TEM MAIS QUE PAGAR SEUS IMPOSTOS, MAS DEVEMOS SABER COBRAR PARA ONDE VAI ESTE IMPOSTO PAGO, SE PARA OS POLITICOS QUE VIAJAM COM SUAS FAMILIAS, OU SE PARA O NOSSO QUERIDO POVO EXCLUSO DE SEUS DIREITOS.DESCULPE-ME O DESABASFO, MAS SÃO TANTOS ANOS PARTICIPANDO DA EXCLUSÃO QUE NÃO CONSEGUI FICAR SEM VOMITAR O QUE ME FAZ MAL , POIS É POSTO GOELA A DENTRO SEM QUE EU QUEIRA COMER. E SEM AO MENOS O DIREITO DE DIZER QUE NÃO CONCORDO, OU MELHOR DE SER OUVIDA.
BJS MEU LINDO, MAIS UMA VEZ VC PÔS SUA VOZ LINDAMENTE PARA FORA .

Katia Cristina disse...

Joeldo,

ao ouvir a palavra cidadania e refletir mais uma vez em tudo que a compõe, me vem a mente palavras de alguém que na minha pequenez considero um ser iluminado que tanto lutou por uma real e plena vivência cidadã:
Um país não muda pela sua economia, pela sua política e nem mesmo pela sua ciência; muda, sim, pela sua cultura.` Betinho
Urge a necessidade de continuarmos a lutar e sairmos do comodismo a que nos colocamos nos últimos tempos.
Parabéns pela iniciativa e pelo excelente contexto de seu pensamento.São ações assim que juntas podem despertar e retirar a viseira que tantos usam em nossa Pátria Amada chamada Brasil.
Beijos.

Katia Cristina

joeldo disse...

Olá Tânia, obrigado pelo comentário e desabafo, que é sempre bem-vindo aqui.
Minha pesquisa foi limitada, reconheço, a dados sobre alimentação. Foi o que meu tempo escasso permitiu.
Saúde, vestuário, e outras informações como, por exemplo, a porcentagem de pessoas no mundo que já usaram um telefone [é pequena!] enriqueceriam muito a discussão. Mas assim vamos caminhando, sempre pesquisando para sabermos onde o sapato aperta.
Beijos
Joeldo

joeldo disse...

Katia,
Tenho que concordar com você.
De fato, a economia define o tamanho do bolo, mas é o nosso caráter que define como ele será dividido.
O crescimento de uma nação passa pelo crescimento espiritual das pessoas.
Obrigado por mais esse pensamento, essa colaboração.
Beijos
Joeldo

Anônimo disse...

Olá Joeldo!

Muito obrigada pela visita e pelas palavras de incentivo! Como Psicopedagoga, já atendi muitas crianças com dificuldades de aprendizagem, mas apenas duas com dislexia e uma com suspeita do transtorno. Nunca trabalhei com adultos com dislexia. Mas posso dizer, que essas crianças me impressionaram por sua inteligância e criatividade em lidar com o "problema".

Parabéns pelo texto também. Concordo que o assistencialismo não é incluir verdadeiramente, ele pouco constrói e eduica as passoas.

Com certeza, virei aqui mais vezes.

Abraços, Michelle

joeldo disse...

Michelle,
Quem tem esse problema sofre duplamente: Com o problema em si e com o preconceito. Na infância, a coisa é pior ainda. Além de inteligência, precisamos de muita auto-estima para não nos considerarmos incapazes.
Obrigado pela sua visita e presença por aqui, aguardo-a mais vezes.
Abraços
Joeldo

Unknown disse...

Há varias formas de exlusão: econômica, racial, religiosa, mas tem um preconceito que, na minha opnião é o maior de todos, e o mais "maquiado" também: o preconceito contra pessoas que não se encaixam nos padrãoes de beleza estabelecido pela mídia! O preconceito contra os gordos, os anões, os gigantes... enfim..todos aqueles que por algum motivo são deixados à margem do padrão normal de beleza! A auto estima destas pessoas são afetadas e isto reflete em vários aspectos da vida, inclusive na verdadeira proporção do significado da palavra cidadania!

joeldo disse...

Ardicema,
A discriminação pela estética tem sua face sombria não apenas na obesidade ou outras disfunções, mas também em doenças criadas pela pressão psicológica para a redução do peso, como a anorexia.
O ideal é sabermos viver bem e em equilíbrio com nosso corpo e espírito, sem dar atenção aos apelos da mídia e seus seguidores.
Beijos
Joeldo

Fred Matos disse...

"Precisamos parar de agir como os "Passageiros de Elite" da Alfândega, que simplesmente ignoram o mundo que imaginam estar sob seus pés."

Está dito e muito bem dito.

Abração, Joeldo.

joeldo disse...

Fred,
Obrigado pela leitura, e pelo oportuno destaque.
Ando com saudades de você por aqui.
Forte abraço
Joeldo

Maria Helena disse...

Amigo,
Perdoe a demora,estamos prestes a um PitStop, em 'massa' por aqui.
Realmente,o desembarque dos excluídos,a desconstrução de sonhos,é uma dor imensurável.
Estamos com saudade.
bjs
Maria Helena

coisas que vi e vivi disse...

Parabens pelo seu texto, muito bem elaborado, bem abrangente, gostei, gostaria de poder acompanhar seu blog, como seria um prazer receber sua visita em meu blog.
Cordiais abraços.
LI

joeldo disse...

Maria Helena,
Faz parte da vida, construir sonhos e desconstruí-los. A verdadeira exclusão é quando somos impedidos de sonhar. O assistencialismo é excludente porque ele faz exatamente isso.
Obrigado pela visita, andava com saudades também.
Beijos
Joeldo

Li,
Obrigado pelo elogio e comentário, será muito bem vinda por aqui.
Já estou visitando o seu blog e gostando muito do que leio.
Grande abraço
Joeldo

coisas que vi e vivi disse...

oBRIGADA PELA VISITA. ESTAMOS ÁS ORDENS.
ABRAÇOS
LI

GREG disse...

Joeldo,
que texto!
um grande abraço,
Greg