[Foto: Pensador Profundo, o supercomputador ficcional do livro/filme O Guia do Mochileiro das Galáxias, projetado para responder à pergunta fundamental sobre a razão da vida, do universo, e tudo mais. Na foto, o referido cérebro eletrônico se encontra vendo desenho animado... Mas bem que poderia ser uma novela da Globo...]
- Nossa, quanto barulho na rua! E justo na hora da minha novela!!!
Deixa ver...
E assim, acorda mais um brasileiro para o óbvio. Pagamos o preço de sermos o país do futebol, do carnaval, e das novelas globais, estas últimas já sem graça. O governo segue rigorosamente a máxima romana do "panem et circenses" (pão e circo) e, mais uma vez, subestima a voz da classe média, desta vez reverberada nos megafones das redes sociais, blogues e afins.
O fato é que estamos fartos. Não do pão, ou do circo romanesco dos duelos futebolísticos. Estamos fartos do show de improbidade administrativa e, acima de tudo, de impunidade. Impunidade que se consolida na aprovação de medidas absolutamente infiéis à democracia e ao estado de Direito, como a impossibilidade de investigação dos atos de improbidade e corrupção por parte de órgãos como o Ministério Público, ou a submissão de decisões judiciais ao crivo do Congresso, entre outras aberrações. Além disso, até o direito de protesto está ameaçado, por tentativas de manobras legais no sentido de confundi-lo com "terrorismo". Os vinte centavos de aumento das passagens do ônibus ou metrô, que poderiam se traduzir talvez em 422,40 reais gastos a mais, anualmente, com condução, por família e em média, foram apenas a gota d'água. Mas sozinhos já seriam um bom motivo.
O problema é que a má notícia nunca vem sozinha. Nosso país tem carga tributária maior que a da Bélgica, a qual tem estádios de primeiro mundo como o Rei Baudoin, mesmo sem nunca ter sediado ou ganhado uma Copa do Mundo. Aquele país também tem os melhores hospitais do mundo, e todos são públicos. É só saber onde e como aplicar os impostos. Como em qualquer país em cujo governo haja um mínimo de sensatez, os circos lá crescem e evoluem a reboque de outros serviços um pouquinho mais essenciais como hospitais e escolas, por exemplo.
O importante é que os príncipes daqui percebam que não estamos parados. Nao se trata de um protesto de burguesinhos do Facebook tentando reivindicar o irreivindicável. Trata-se de uma demonstração de força. Em que pese as reclamações de que as manifestações não têm foco, ou liderança, ou que sejam apolíticas; melhor que seja assim. À nação importa fazer saber ao governo que há uma insatisfação geral quanto à sua forma de conduzir a sociedade, gerando leis que perpetuem o autoritarismo, engessem a liberdade de expressão e manifestação e, de quebra, perpetuem a indústria da corrupção. Vamos acordar e dar um basta nisso. Aos incomodados, pedimos desculpas pelos transtornos. Mas nessa obra de mudar o Brasil, não vai ter quinze por cento.