tag:blogger.com,1999:blog-53070100525456152092024-03-05T23:38:53.307-08:00Alfândega do Fim do MundoUma alfândega que reside no mundo virtual, repleta de poesia e muita reflexão.
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Obs.: Todas as histórias aqui apresentadas são ficcionais. Qualquer coincidência com a realidade é mera semelhança. ;-)
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<i><small> A Alfândega do Fim do Mundo não tem nenhuma correlação com a Inspetoria de Belo Horizonte, no Aeroporto de Confins, tampouco com as Alfândegas de Guarulhos e Viracopos, bem como nenhuma outra Alfândega real deste mundo!</small></i>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.comBlogger53125tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-77192785398010969992013-06-19T07:17:00.001-07:002013-06-19T16:09:54.700-07:00Além do Pão e do Circo<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0r5m2nwdJTjQVcPaWlfqMIzJ38gAQdPCRhWC9z-kSAzREJ7jXjuz24c85MSA-V6t37lB4V-BOcjVwjB2J55-ExN9xGRoD9G7mThSNtWXUgWZrRCAnOQ3sRAatvsag7Xf_KfBM4LreoX5E/s1600/300px-Deep_Thought.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0r5m2nwdJTjQVcPaWlfqMIzJ38gAQdPCRhWC9z-kSAzREJ7jXjuz24c85MSA-V6t37lB4V-BOcjVwjB2J55-ExN9xGRoD9G7mThSNtWXUgWZrRCAnOQ3sRAatvsag7Xf_KfBM4LreoX5E/s1600/300px-Deep_Thought.png" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: xx-small;">[Foto: Pensador Profundo, o supercomputador ficcional do livro/filme <i>O Guia do Mochileiro das Galáxias</i>, projetado para responder à pergunta fundamental sobre a razão da vida, do universo, e tudo mais.<span style="font-size: xx-small;"> </span>Na foto, o referido cérebro eletrônico se encontra vendo desenho animado... Mas bem que poderia ser uma novela da Globo...]</span></div>
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<br />
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<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: large;">- <i>Nossa, quanto barulho na rua! E justo na hora da minha novela!!! </i></span></div>
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<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: large;"><i> Deixa ver</i>...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: large;">E assim, acorda mais um brasileiro para o óbvio. Pagamos o preço de sermos o país do futebol, do carnaval, e das novelas globais, estas últimas já sem graça. O governo segue rigorosamente a máxima romana do "panem et circenses" (pão e circo) e, mais uma vez, subestima a voz da classe média, desta vez reverberada nos megafones das redes sociais, blogues e afins.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: large;">O fato é que estamos fartos. Não do pão, ou do circo romanesco dos duelos futebolísticos. Estamos fartos do show de improbidade administrativa e, acima de tudo, de impunidade. Impunidade que se consolida na aprovação de medidas absolutamente infiéis à democracia e ao estado de Direito, como a impossibilidade de investigação dos atos de improbidade e corrupção por parte de órgãos como o Ministério Público, ou a submissão de decisões judiciais ao crivo do Congresso, entre outras aberrações. Além disso, até o direito de protesto está ameaçado, por tentativas de manobras legais no sentido de confundi-lo com "terrorismo". Os vinte centavos de aumento das passagens do ônibus ou metrô, que poderiam se traduzir talvez em 422,40 reais gastos a mais, anualmente, com condução, por família e em média, foram apenas a gota d'água. Mas sozinhos já seriam um bom motivo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: large;">O problema é que a má notícia nunca vem sozinha. Nosso país tem carga tributária maior que a da Bélgica, a qual tem estádios de primeiro mundo como o <i>Rei Baudoin</i>, mesmo sem nunca ter sediado ou ganh<span style="font-size: large;">ado</span> uma Copa do Mundo. Aquele país também tem os melhores hospitais do mundo, e todos são públicos. É só saber onde e como aplicar os impostos. Como em qualquer país em cujo governo haja um mínimo de sensatez, os circos lá crescem e evoluem a reboque de outros serviços um pouquinho mais essenciais como hospitais e escolas, por exemplo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: large;">O importante é que os príncipes daqui percebam que não estamos parados. Nao se trata de um protesto de burguesinhos do Facebook tentando reivindicar o irreivindicável. Trata-se de uma demonstração de força. Em que pese as reclamações de que as manifestações não têm foco, ou liderança, ou que sejam apolíticas; melhor que seja assim. À nação importa fazer saber ao governo que há uma insatisfação geral quanto à sua forma de conduzir a sociedade, gerando leis que perpetuem o autoritarismo, engessem a liberdade de expressão e manifestação e, de quebra, perpetuem a indústria da corrupção. Vamos acordar e dar um basta nisso. Aos incomodados, pedimos desculpas pelos transtornos. Mas nessa obra de mudar o Brasil, não vai ter <i>quinze por cento</i>.</span></div>
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"><br /></span>
joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-14322409527335490392012-11-14T00:20:00.001-08:002012-11-14T02:16:42.645-08:00Pílula Vermelha ou Azul?<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3MUAw3N08JaI0Q_xx1Yi7TTa0zj8RskJAHaH5LODb2aofvJ4B2tAxRJiW0ECsmRTW9cTCTxcZVepWDUh4RMQAGu5rG59NkW9xHkQgc8eMKmEQ-miTIjWa9EH9SRGjsKHRyk74nlQSN-Jq/s1600/red-pill-blue-pill.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3MUAw3N08JaI0Q_xx1Yi7TTa0zj8RskJAHaH5LODb2aofvJ4B2tAxRJiW0ECsmRTW9cTCTxcZVepWDUh4RMQAGu5rG59NkW9xHkQgc8eMKmEQ-miTIjWa9EH9SRGjsKHRyk74nlQSN-Jq/s320/red-pill-blue-pill.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: xx-small;">[na figura: pílulas vermelha e azul]</span></div>
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<br />
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Na trilogia cinematográfica Matrix (1999), em seu primeiro filme, o protagonista é apresentado a um par de pílulas: uma azul e a outra, vermelha. A pílula azul lhe permitiria continuar vivendo a sua vida normalmente, como um sonho. A vermelha serviria para lhe mostrar a real natureza da Matrix. E o que é a Matrix? Assistam o filme. Basta o primeiro da série. (E não, Matrix nao é um "filme de luta".)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No serviço público, em algum ponto da nossa carreira, eventualmente somos apresentados a essas duas pílulas. A pílula vermelha pode vir em forma de um projeto interessante, inovador. Algo que demande trabalho, enfim. Viagens intermináveis, menos contato com a família e mais tempo para se dedicar à <i>res publica</i>. A este ponto, é chegada a hora de dizermos sim ou não a ela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando dizemos sim à pílula vermelha, é como se tomássemos pé da realidade como ela é. Descobrimos que temos de trabalhar com prazos, metas, qualidade. O grau de eficiência esperado é semelhante e muitas vezes maior que o da iniciativa privada, com bem menos recursos, e com a agravante de que podemos responder administrativamente, e até mesmo judicialmente, por nossos erros, intencionais ou não. E se o projeto não sair? Ou se sair a um prazo e custo inviáveis? Na iniciativa privada isso é resolvido com uma canetada e um bilhete azul. Vão em paz, em busca de novos desafios. No serviço público, em vez disso, as coisas são resolvidas na temível Corregedoria. Não apenas podem perder o emprego os que pilotam mal suas naves; podem, da mesma forma, amargar cadeia.</div>
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<br /></div>
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Não podemos errar; a pílula vermelha não nos dá feriados, finais de semana. Ela nos dá um objetivo e um sonho. Objetivo de cumprir nossas tarefas a contento, e o sonho de, com isso, construir um serviço público e um País melhor.</div>
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<br /></div>
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E se tomarmos a pílula azul? Aí tudo bem. Exercemos nossas atividades das nove às dezoito, com tempo e pausa para o café. O salário, depositado religiosamente no mesmo dia de todo mês, nos dá a certeza de que trabalhamos em uma empresa que, como supomos, sempre existirá, e prosperará, a despeito do que fizermos ou deixarmos de fazer por ela. Servos inúteis, não fazemos mais que a obrigação, sem ter ideia do sofrimento dos que fazem muito mais do que ela. Nossa escolha, é sempre fazer nada, sendo "nada" definido como "o suficiente" para que tudo corra bem e que o indivíduo possa ir para casa pensando em nada além do jogo do Flamengo, ou do jantar com a esposa.</div>
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<br /></div>
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À semelhança do filme, no serviço público os "pílula azul", além de seres essencialmente dormentes, são potenciais opositores de tudo aquilo que os "pílula vermelha" vierem a fazer. Vistos como subversivos e anarquistas, freqüentemente os "pílula vermelha" são rechaçados pelos pílula azul, com o espírito reacionário, leviano e intrigueiro que os permeia. E é essa a luta, por um Serviço público Melhor. </div>
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<br /></div>
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E mãos à obra. Há muito trabalho a fazer, Morpheus.</div>
<br />joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-80170444291961534812012-09-12T04:36:00.003-07:002012-09-12T12:38:57.605-07:00Presente de Grego<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsSZzmH4LiBaL0jlSfTzKpwR7QcOMP7AoigirsVuG-Y2yQ7tKE2eWQ4Ml0Qs6Q6x4KbzPpNrpjG530XX4F8J2qraT6vZemxAG7hG-cIfaBRw4ijFNxYPiTX1eGx5upybpwSc7JylW4wtm0/s1600/troia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsSZzmH4LiBaL0jlSfTzKpwR7QcOMP7AoigirsVuG-Y2yQ7tKE2eWQ4Ml0Qs6Q6x4KbzPpNrpjG530XX4F8J2qraT6vZemxAG7hG-cIfaBRw4ijFNxYPiTX1eGx5upybpwSc7JylW4wtm0/s320/troia.jpg" width="297" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: xx-small;">[Foto: Cavalo lendário utilizado pelos gregos para conquistar a cidade de Troia]</span></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
A generosidade mundial para com o povo brasileiro é algo que me impressiona, e me deixa muito satisfeito. Os presentes vão desde iPad's do modelo mais simples, até computadores de última geração, entre outros. Passageiros chegam, todos os dias, entulhados de produtos de grande valor, todos eles "dados" por seus parentes, amigos, e familiares no exterior. Até mesmo quem viajou sozinho, por pacote turístico, acaba tendo a sorte de receber um desses "presentes", acredito eu, por gente que conheceu lá.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que lamento é nunca ter tido essa mesma sorte, mesmo já tendo dado algumas voltinhas pelo planeta. Talvez eu precise andar mais bonito e atraente, quem sabe. Questões estéticas à parte, a verdade é que os supostos "presentes", dados ou não, estão sujeitos à mesma regra tributária aplicada a toda a bagagem. Em uma situação eminentemente prática, o passageiro chega e me deparo com o a seguinte frase feita:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas senhor, este equipamento eu não comprei, eu ganhei!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nem avanço na questão. Tenho um colega que costuma responder assim: "achado na rua também paga imposto". Mas acho um tanto rude. Prefiro fazer vistas grossas. Não à bagagem, claro, mas à situação descrita pelo viajante. Até mesmo porque, naquele instante, ela não importa muito. Presentes são tributáveis, senhor - simplifico.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O tratamento para bens doados, segundo o Regulamento Aduaneiro, isenta parte do imposto sobre bens destinados a instituições de cunho científico ou filantrópico (com "f"), devidamente registrados no Brasil. Também há previsão legal para obras de arte destinadas a museus, entre outros casos. Na maioria deles, a isenção não é total. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nenhum desses, porém, é o caso dos nossos sortudos passageiros, que buscam "seta verde" sobre suas generosas prendas. Ao funcionário de plantão compete fazer a corriqueira valoração aduaneira, na ausência de documentação comprobatória do valor de aquisição dos bens, o qual se perde na hora do embrulho. Justificadamente, afinal ninguém quer um presente com preço. Então não resta outra alternativa senão a valoração, que é uma estimativa de valor do bem, o qual por sua vez se destina a servir de base de cálculo para os impostos devidos.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Resta-nos,
então, informar ao passageiro que a mercadoria precisa ser
nacionalizada e que são devidos os tributos para ingresso dos bens no País. Em
muitos casos, também é aplicada multa, pois o passageiro não havia
optado pelo canal "Bens a Declarar", quando do seu ingresso na Alfândega.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Neste ponto, muitos "surtam". Ah, isso é
absurdo, cobrar imposto sobre algo que eu ganhei! Xingam, brigam.
Tento, o mais fielmente possível, fazer meu papel de pacificar e
esperar. É um momento em que a cera nos ouvidos ajuda muito. A ação do
Estado, como sabemos, contraria interesses individuais. São ossos do
ofício. É importante que o passageiro se conforme com a situação e passe
a colaborar. Geralmente, a calmaria só tem lugar após o pagamento da guia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nesse final, alguns deles chegam a xingar o suposto presenteador, o qual, real ou fictício, agora se vê em maus lençóis, no que diz respeito à amizade que mantinha com o passageiro. Pessoalmente, acho que isso tem um quê de ingratidão. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas a verdade é que, sabendo das implicações do ingresso do bem no país, o passageiro imagina ter recebido um belo Presente de Grego.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É isso aí. Boa quarta-feira a todos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-42186660327121245812012-09-11T00:35:00.000-07:002012-09-12T01:30:06.281-07:00Isso São Outros Quinhentos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHOMmCElFhVipI4qv-nzosDQ2iJc5ESDEKLbjCPgdu0nkblBDq9c4FbDpYopOZM-bl4csrQawcDFyadRHIYg98mdBpRlRE2Xdm4FPtBBzIN6SMr3K9U-_PfiWE83r4rJXCqNtlJcrAhGGr/s1600/littlesuitcase1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHOMmCElFhVipI4qv-nzosDQ2iJc5ESDEKLbjCPgdu0nkblBDq9c4FbDpYopOZM-bl4csrQawcDFyadRHIYg98mdBpRlRE2Xdm4FPtBBzIN6SMr3K9U-_PfiWE83r4rJXCqNtlJcrAhGGr/s320/littlesuitcase1.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-style: italic;"> <span style="font-size: xx-small;"> [Na foto: Uma mala minúscula, simbolizando a insatisfação geral com a cota de isenção]</span></span></div>
<br />
<span style="font-style: italic;">Ou: A origem do limite de isenção</span><br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Bom, vejamos. A cota de isenção de tributos sobre a bagagem acompanhada, definida atualmente pela IN (Instrução Normativa) RFB 1059, de outubro de 2010, é de quinhentos dólares americanos. Isso dá pra comprar umas roupinhas, perfumes e uns relógios mais baratinhos, até encher meia mala, das pequenas. Ou, se o passageiro preferir, um iPad dos mais fraquinhos. Os gostos variam, mas a verdade é que todo mundo reclama da cota e ninguém - ou quase ninguém - se mantém dentro dela, no que diz respeito às suas compras. A esses - e a todos os outros - recomendo a atenta leitura da referida IN.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aí a coisa complica um pouco. Há quem fale nos bens "de uso pessoal". Antes da IN 1059 eu tinha que convencer o passageiro de que um notebook, comprado na véspera da volta e cheio de adesivos pra disfarçar, não era um bem "de uso pessoal" pelo simples fato de não ter sido usado mais que o botão de liga-desliga. Agora, a IN diz expressamente que os equipamentos de computação, entre outros, não se enquadram nesse conceito, mesmo os mais surradinhos. Ou seja, se não tiver nota fiscal (brasileira) ou documento de regular importação, fica mesmo - até que o passageiro providencie um desses, ou na sua ausência, que pague o imposto. Pessoal mesmo, fora aquilo que viajou do seu guarda roupa até a mala, só mesmo seu telefone celular, sua máquina fotográfica (com uma lente), e seu relógio de pulso. Usou, não tem imposto. O resto está dentro dos quinhentos dólares do limite de isenção - ou fora, se o limite for ultrapassado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O outro nó cego eram as tais "Declarações de Saída Temporária - DST's" que a referida Instrução Normativa tratou de erradicar. Esses papeizinhos oblongos, que atendem por esse sigla feia, começaram a servir a um propósito mais feio ainda. A ideia inicial era cadastrar bens levados na saída, pelo viajante, e verificá-los na reentrada do país, com a finalidade de não serem incluídos na cota de US$500. Porém, muitas vezes, equipamentos trazidos de maneira ilegal ao país eram "legalizados" pelo simples preenchimento delas, com a assinatura e complacência de uma impotente "Autoridade Aduaneira", que era o nome pomposo dado, por aqueles documentos, ao sonolento funcionário que os verificava e carimbava, Contrariando meus superiores, eu não atestava DST's que incluíssem bens de valor superior a US$ 500,00, sem a apresentação da nota fiscal. Até que veio a IN e aí deixei de ser um rebelde - agora as DST's não existem mais, o que significa que não perdemos mais nosso tempo carimbando nem verificando aqueles papeizinhos compridos. Muitos deles ainda circulam por aí, a despeito de não servirem para mais nada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A IN 1059 não traz novidade nenhuma quanto à cota de isenção - Ela reedita uma norma de 1996, que reedita outra de 1991, e o mesmo valor está mantido há mais de vinte anos. A verdade é que a cota de isenção não é um direito e sim uma liberalidade fiscal. Abre-se mão de uma parte das receitas, por questão de conforto e comodidade. Não que eu concorde, mas a ideia é essa. A ideia é que ninguém precisa ir até o exterior para comprar produtos que podem ser adquiridos na loja da esquina. Bem mais caros, é verdade, mas assim fazem os simples mortais que não têm condições de fazer uma viagem internacional. À classe média alta, que assim pode fazê-lo, faz muito bem também em pagar o imposto. Assim, pobres e ricos são tratados por igual. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não concordo, nem discordo. Esse é um jeito de pensar que foi definido pelas autoridades lá em cima. Não tem jeito: assuntos de isenção têm que ser tratados com isenção. Se passam por mim reclamando da pequena cota de isenção, apenas digo que estou aqui para fazê-la cumprir. Reduzi-la ou aumentá-la, não é minha área.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Aí são outros quinhentos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Bom dia.</div>
joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-6137505266633596092012-02-14T04:19:00.009-08:002012-02-14T05:42:01.536-08:00Apenas Zelo, Senhor!<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-yOon6qYK0Tr6kJ_xXIQmYWGMukNAXiHEgzKMEndlj7k3fMyTmHqnX6Iu3ddFCAaT8PzK-ifI6UTBdzavZCX0qNXJohKk2Q3WBomoOcImO-zREjGsjLhCD6PPsNGTC2ADRYMZVcNlFw0J/s1600/calculadora.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 299px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-yOon6qYK0Tr6kJ_xXIQmYWGMukNAXiHEgzKMEndlj7k3fMyTmHqnX6Iu3ddFCAaT8PzK-ifI6UTBdzavZCX0qNXJohKk2Q3WBomoOcImO-zREjGsjLhCD6PPsNGTC2ADRYMZVcNlFw0J/s320/calculadora.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5708983796109947506" border="0" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:78%;">[Foto: Uma calculadora, para lembrar que não existem contas "excessivamente exatas"]</span><br /></div><br /><br /><br /><br /><br /><br />Paulo Navarro e a Loura da Alfândega<br /><br /><div style="text-align: justify;">Aqui segue um comentário a respeito do texto do colunista Paulo Navarro sobre os procedimentos de uma certa Alfândega real, que não é a Alfândega do Fim do Mundo, mas serve de base e inspiração para os textos aqui postados.<br /></div><br />O texto é esse:<br /><br />http://www.paulonavarro.com.br/2,4,20,1460/detalhe/navarro-sabado-4-de-fevereiro-de-2012.aspx<br /><br /><div style="text-align: justify;">Minha resposta é essa:<br /><br />Senhor Navarro, não posso falar pela Alfândega do Aeroporto de Confins. No entanto, posso falar do meu próprio trabalho, e do trabalho da ilustre colega que, em meus textos, codinomeio Adriana. Então, seguem minhas considerações a esse respeito.<br /><br />Sobre o "Excesso de Zelo"<br /><br />Esse termo faz tanto sentido quanto falar de "excesso de respeito", ou "excesso de precisão", por exemplo.<br />O ilustre senhor, como colunista, recebe um salário. O salario é devido ao ato de escrever uma, duas, ou três dezenas de artigos por mês, conforme o contrato que o senhor tem com o seu jornal. Vamos assumir que o seu salário é, por exemplo, R$ 1.000. Ora, se o pessoal do setor de pagamentos do jornal, ao final do mês, resolve lhe pagar R$ 700, sem motivo aparente, isso evidentemente é falta de zelo da parte deles. O senhor vir a cobrar-lhes o que é de direito, obviamente, não é excesso de zelo. É apenas zelo. Entendeu? Da mesma forma, o jornal lhe pagar, por descuido, R$ 1.300, seria igualmente falta de zelo. O senhor não devolver a quantia paga a mais, nesse caso, seria uma igual falta de zelo da sua parte. Porém, se a devolver, aí sim, será zeloso (e não "excessivamente zeloso") para com o jornal. É assim que trabalhamos, portanto. Assim como o salário é pelo trabalho, o imposto é pelo ingresso do bem, conforme seu valor. Sem falta de zelo, se assim o quiser, mas nunca com excesso dele, uma vez que tal coisa <span style="font-style: italic;">não faz sentido</span>.<br /><br />Perua versus peruas<br /><br />Segundo a lei atualmente em vigor, existe um limite de isenção de US$ 500 para compras que os passageiros trazem do exterior, via aérea. Ora, se alguém trouxer uma bolsa Luis Vuitton de US$ 4.000, obviamente, terá de pagar imposto sobre os US$ 3500 que excederam a cota. E, para tanto, nada melhor que alguém que sabe distinguir uma bolsa Louis Vuitton verdadeira de uma falsificação barata. Assim, nossa perua está lá para zelar pela lei que alguma passageira ou passageiro, perua ou não, eventualmente venha a tentar transgredir.<br />[A propósito, falsificações têm sua importação proibida, segundo a mesma lei. Lei que não temos poder para modificar diretamente, mas para cujo autor existe um punhado de gente (que inclui a mim e a você) que tem poder para colocar e tirar do poder, mediante o voto.]<br /><br />Conhecimento versus esnobação<br /><br />Caro senhor. Se eu comprar um computador iMac, por exemplo, o lojista me informa que se trata de um iMac, eu pago por um iMac e pego o recibo de um iMac. Se eu digo ao fiscal que se trata de um monitor branquelo gigante de 27 polegadas, quem está tentando esnobar quem? Se o fiscal retruca dizendo que se trata de um computador pessoal da empresa americana Apple, onde ele está esnobando conhecimento? Em dizer algo que o passageiro já sabia e "esqueceu", no exato instante em que passava pela aduana? Caro senhor, sou formado em Ciência da Computação e trabalho na área há cerca de 25 anos. Se consigo distinguir um computador de outro, por inspeção visual, isso é apenas parte do meu trabalho. Se ele estiver queimado, posso distingui-lo pelo cheiro. No caso da colega Adriana, formada pela <span style="font-style: italic;">universidade da moda</span>, o mesmo vale para perfumes, ou lençóis de trezentos ou quinhentos fios. Sem esnobação. Mais uma vez, apenas zelo. Nosso trabalho é assim: uns ajudam os outros, conforme a especialidade. E o passageiro cumpridor da lei sai ganhando, pois ele não passa nenhum tipo de "pesadelo". Pesadelo passa quem sonega imposto, assim como quem não paga suas contas em dia.<br /><br />Talvez ainda haja uma parte da elite que se julga acima da lei. A essa elite, só tenho a dizer que aqui, fazemos cumprir a lei, para os ricos e para os pobres, com absoluta imparcialidade [E não "excesso de imparcialidade".]<br /><br />Só para constar, um número cada vez maior de passageiros opta por desembarcar em Confins, conforme estatísticas da Infraero. Um número cada vez crescente de passageiros honestos e zelosos, e por quem temos um grande respeito e tratamos com absoluta cordialidade. [E não "excesso de respeito" ou "excesso de cordialidade".]<br /><br />É isso aí.</div>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-51466879575732885632010-10-22T01:02:00.000-07:002010-10-22T02:43:15.798-07:00Novo Blog<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7gcylYTSvM2HbI3qv05FRPhKgqiMNklnwgoM5iRiz20EzAE5kyS7SX-QgoHGhqsBKZKhrRN9uHnVVcIfxroPxy1CWuL49-THYC-tFrSDzze-tsskBeZsQtsu2rIVSCW7vBzCS1cd7DDcS/s1600/cacimba1.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 295px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7gcylYTSvM2HbI3qv05FRPhKgqiMNklnwgoM5iRiz20EzAE5kyS7SX-QgoHGhqsBKZKhrRN9uHnVVcIfxroPxy1CWuL49-THYC-tFrSDzze-tsskBeZsQtsu2rIVSCW7vBzCS1cd7DDcS/s320/cacimba1.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5530779823506003346" border="0" /></a><span style="font-size:78%;">Na montagem grotesca acima, uma cacimba acoplada a um poço quântico.</span><br /></div><br /><br /><br />Pessoal,<br /><br /><div style="text-align: justify;">Dada a minha evidente esterilidade para conceber novos textos aqui, resolvi criar um outro blog, o <a style="color: rgb(255, 0, 0);" href="http://cacimbaquantica.blogspot.com/">Cacimba Quântica</a>. Mais informal, e não preso a um único recinto, deve me dar mais liberdade para falar de mim mesmo, expor minhas ideias e visão de mundo. Espero que possam achar alguma coisa de interessante lá.<br /><br />O Alfândega continua à espera de que sarem a minha esterilidade e paralisia digital, para que eu possa postar textos aqui com mais frequência. Histórias não faltam, embora eu já tenha saído dos plantões e esteja trabalhando em uma outra área da repartição.<br /><br /></div>Abraços a todos!joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-89467878442723108042010-07-04T22:41:00.000-07:002010-07-05T01:49:33.609-07:00Perguntas Padrão. Respostas, Nem Tanto...<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJg5_kHoO_SGlzp02iMRz8mkd2Lo7Z1JszOLYbbWOxpmZthqmRlmxlermO8PsGnoraIg1mld-CWkwCxmARuzZ76tMy3eg-Cljc8VEMZv0ucAbUAO9JTy3sanqkq8G0-l8x4BmhWI_FTDCf/s1600/lazer_viagem_pass_3.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 240px; height: 180px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJg5_kHoO_SGlzp02iMRz8mkd2Lo7Z1JszOLYbbWOxpmZthqmRlmxlermO8PsGnoraIg1mld-CWkwCxmARuzZ76tMy3eg-Cljc8VEMZv0ucAbUAO9JTy3sanqkq8G0-l8x4BmhWI_FTDCf/s320/lazer_viagem_pass_3.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5490300917032015858" border="0" /></a><span style="font-size:78%;">[foto: passaporte americano, aos pés de uma jovem cidadã]<br /></span></div><br /><br /><div style="text-align: justify;">Numa Alfândega, estamos dispostos a perguntar sempre. E as perguntas podem ser as mais indiscretas possíveis. Paciência, é a lei que manda. É mediante as perguntas certas que conseguimos identificar a situação de um passageiro que ingressa no País e seus direitos. Assim, evitamos injustiças, tais como a tributação dos bens pessoais de um passageiro em mudança definitiva ou ingresso temporário, por exemplo. Então, temos sempre um leque de perguntas padrão a fazer.<br /><br />As respostas, porém, é que podem ser as mais inusitadas, maliciosas ou até ameaçadoras. Tudo depende do tipo de gente que vem passar as malas por aqui, bem como do humor em que estão. Vou dar um exemplo. Uma pergunta muito comum é:<br /><br />- Há quanto tempo você está nos Estados Unidos?<br /><br />Se essa pergunta encontra um brasileiro residente nos EUA, a resposta varia conforme o sexo do passageiro:<br /><br />- Eu moro lá. (Homens)<br /><br />- Eu mooooooro nos Estaaaaados Uniiiidooossss!!! (Mulheres)<br /><br />E o porquê de uma resposta com todas as vogais longas? Não tenho ideia. Talvez o espírito de competição, inerente às mulheres, as faça ostentar a cidadania como quem exibe uma joia ou uma arma. Isso deve explicar o tom da resposta, que tem um quê de esnobe e soa até levemente ameaçador. Parabéns, cidadã americana. Porém, lamento informar que você está no Brasil. De agora em diante, são as leis daqui que terá de cumprir, o tempo todo, até que resolva ir embora. Senão leva uma multa, ou vai em cana, dependendo do que aprontar.<br /><br />Mas não é essa a resposta que dou. Simplesmente repito a pergunta...<br /><br />- Há quanto tempo, senhora, está nos EUA? Desde que nasceu?<br /><br />- Não. Moro lá há vinte e dois anos. Mas sou cidadã americana!<br /><br />Peço o passaporte. Geralmente, a maioria das cidadãs valadarense-americanas cai em si neste ponto. Algumas, no entanto, insistem em balançar a cadernetinha azul-marinho, com a águia estampada na capa. Prossigo, na minha luta incansável para informar a elas próprias onde estão.<br /><br />- A senhora por acaso está ilegal no país? - Pergunto com um ar ingênuo, folheando o passaporte americano da moça.<br /><br />- Ilegal? Como assim? Impossível! Como o senhor pode afirmar um absurdo desses? <span style="font-style: italic;">Eu sou cidadã americana!</span> - Esperneia a cortesã, como se o cobiçado título a salvasse de todos os perigos e a inocentasse de todos os pecados.<br /><br />- Não estou afirmando nada, apenas perguntei. Acontece que este seu passaporte não tem visto. Cidadãos americanos necessitam de visto para entrarem no País. É a lei da reciprocidade, senhora. Já que nós precisamos do seu visto para entrar lá, vocês também precisam do nosso para vir cá.<br /><br />- Mas eu tenho passaporte brasileiro! Entrei na imigração como brasileira! - Neste momento, a esnobação começa a dar lugar à razão. A moça se reapresenta como <span style="font-style: italic;">made in brazil</span>. Aparece o passaporte correto. Desperta, enfim, a incauta transeunte.<br /><br />- Ah... <span style="font-style: italic;">Então a senhora é brasileira</span>... Muito bem... Seja bem vinda!<br /><br />Aqui na Alfândega não fazemos distinção de países, nacionalidades. Nenhum passaporte é privilegiado ou abre mais portas o que o outro. Mas se não for o brasileiro, pode ser que seja necessário o visto... Senão não entra mesmo.<br /></div>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-42265623566918053422010-06-04T00:02:00.000-07:002010-06-04T15:27:14.334-07:00Há Pragas que vêm para Bem<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgm6NA3H5XM2GF1ZsZOeXDsydbCJBk_Abom_5K9rEVFrMzrEPQlYGtlr1NNejPw3II1dZmk8keQNuEmiYJ4LH9C12tbbMPTJ1n8sMcHPtDEPr9BcGcrBSTDmyVC0aNY3KPm6B5sfZNQvE2O/s1600/joiotrigo.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgm6NA3H5XM2GF1ZsZOeXDsydbCJBk_Abom_5K9rEVFrMzrEPQlYGtlr1NNejPw3II1dZmk8keQNuEmiYJ4LH9C12tbbMPTJ1n8sMcHPtDEPr9BcGcrBSTDmyVC0aNY3KPm6B5sfZNQvE2O/s320/joiotrigo.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5478824701051137266" border="0" /></a><div style="text-align: center;"><span style="font-size:85%;">[imagem: joio em meio ao trigo - ou vice-versa]</span><br /></div><br /><br /><div style="text-align: justify;">Vejo que, na Alfândega, o mato tomou conta. Aqui está parecendo o sítio onde moro. Mas para tudo tem jeito - Contrato os serviços de Renato, nosso diligente jardineiro, e também porteiro da Alfândega, para aparar todo o capim, limpar o terreno, refazer os caminhos, erradicar as pragas. Assim a Alfândega ficará bem.<br /><br />Falando em pragas, emendo uma história digna de nota. Certa passageira desembarcou pela manhã, trazendo nada menos que um trio de computadores portáteis. Isso entre outras bugigangas. Como é frequente por aqui, "esqueceu-se" de fazer a declaração dos bens.<br /><br />Mas essa passageira era diferente.<br /><br />- O senhor há de convir que eu respeito as leis de Deus. Sou dizimista... Os dizimistas fazem tudo em honra e glória ao Senhor [com S maiúsculo...] - disse algo parecido, enquanto eu contava a bagagem.<br /><br />Jesus, quando foi tentado pelo Diabo, usava as Escrituras para se defender. Eu, apesar de já ter lido a Bíblia toda, sou péssimo para guardar capítulos e versículos. Mas tentei emendar algo. Arrisquei:<br /><br />- Minha senhora, na Bíblia está escrito que todo cristão deve estar sujeito às autoridades superiores, pois toda autoridade vem de Deus. Assim, a senhora deveria seguir as leis do País. Declarar seus bens também é uma forma de obedecer a Deus. - Defendi, com ares de pastor.<br /><br />- Mas onde está escrito isso? - Interpelou a passageira, revoltada.<br /><br />- Acho que é Romanos alguma coisa - chutei.<br /><br />- Tudo bem - convenceu-se a mulher - reconheço que errei. Mas o que o senhor está fazendo comigo é uma injustiça.<br /><br />- Quem é injusto, a lei ou quem a faz cumprir? - Rebati de pronto.<br /><br />Filosofias à parte, continuo contando item por item. Perfumes, relógios, coisas sem uso. A mulher solta mais esta:<br /><br />- Olha eu não sei de nada, mas o senhor trate de contar tudo certinho. <span style="font-weight: bold; font-style: italic;">Pois qualquer erro que cometer, Deus virá pessoalmente cobrar do senhor, no final da sua vida.</span> Ele [aqui com E duplamente maiúsculo, por causa do ponto final] fará isso para todos os erros que cometer no seu trabalho aí.<br /><br />Pronto. Rogaram-me uma praga. O que faço? Meus pensamentos entram em colapso. E se eu errar por cinco dólares? No juízo final, como isso conta? E o perdão? Ele existe para quem trabalha sem dormir, como nós?<br /><br />- Senhora, "me dá licença" que eu vou ali conversar com Deus.<br /><br />Ela me olhou, espantada. Saí do recinto, pelo desembarque. Fui ao banheiro, à guisa de lavar o rosto. Mas não fui onde habitualmente vou, ao lado do Duty Free. Em vez disso, fui no da parte externa, perto do ponto de ônibus. Assim, mudaria de ares e não seria abordado por mais ninguém. Lavei o rosto e comecei a conversar com Deus. Ele [de novo com E duplamente maiúsculo] nem me esperou terminar de falar, em pensamento, e já respondeu:<br /><br /><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">- Acho melhor você parar de dar papo para essa passageira. Ela está cansada, estressada e a coisa pode se complicar.</span><br /><br />Confesso que fiquei surpreso com a resposta dEle. Foi bem prático, coloquial. Achei que ia me citar algum versículo, dar-me um sermão, ou talvez mandar alguma mensagem que pudesse transmitir a ela. Algo mais eloquente, quem sabe. Mas foi só aquilo mesmo. Poderia ser que Ele estivesse ocupado com coisa mais importante, e o caso ali não era nada para alguém se aprofundar. Muitas coisas têm soluções mais simples do que a gente imagina.<br /><br />Fiz o que Ele mandou, enfim. A mulher, notando a minha mudança de comportamento, quis saber o que aconteceu. Falei a ela o que o Criador me disse. Ela, aos poucos, foi se acalmando. Como o imposto seria pago pela irmã, pediu meu número de telefone pessoal e e-mail, para que pudesse me avisar sobre o pagamento, o qual chegaria a mim por correio eletrônico. Não vi problemas em fornecer-lhe esses dados. Assim, o imposto foi pago e ela retornou para buscar as mercadorias:<br /><br />- Obrigada por tudo. <span style="font-style: italic;">O senhor foi muito gentil e me atendeu bem. Peço desculpas pelo que lhe falei. Deus o abençoe, e à sua família. </span>Sei que muita gente passa por aqui, mas de mim sei que o senhor [com s minúsculo, para evitar ambiguidades] não se esquecerá.<br /><br />Realmente, não me esqueci mais daquela senhora. Só Deus mesmo [com D maiúsculo] para me livrar daquela situação, tocando o coração dela e fazendo com que uma praga como aquela se revertesse para bem.</div>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-16998312068490767122010-01-31T20:08:00.000-08:002010-01-31T20:15:41.132-08:00Uma Bela Fria<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3H8tS4pjmlFCHrF5s1GEBO9DWRGCnCapp8JSLaDhtFTmZmyFFnhnaBmQjFzjMueZw6EG1PXE-nHHF7KuWZWd43hkzi0niZq2Ml43iUcTdzcj1geqwkKnhipiVigjxDiIGto4HOWVL_pvn/s1600-h/nt-skank.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 200px; height: 138px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3H8tS4pjmlFCHrF5s1GEBO9DWRGCnCapp8JSLaDhtFTmZmyFFnhnaBmQjFzjMueZw6EG1PXE-nHHF7KuWZWd43hkzi0niZq2Ml43iUcTdzcj1geqwkKnhipiVigjxDiIGto4HOWVL_pvn/s320/nt-skank.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5433123469696595842" border="0" /></a><br /><br /><br /><div style="text-align: justify;">Numa Alfândega, é sempre bom estarmos preparados para tudo. Emerson é um funcionário preparado por natureza, e pelos anos de vivência em outros aeroportos. É bom que seja assim, seja com Emerson ou qualquer outro. Aqui no Fim do Mundo, recebemos, entre tantos, um voo vindo de Portugal e conexões de toda a Europa. E é certo que cada um dos duzentos e sessenta e um passageiros desse voo pode estar nos trazendo uma surpresa. Uma surpresa nem sempre agradável.<br /><br />Uma bela mulher, acima de qualquer suspeita, chegando de Barcelona. Aperta o botão. A setinha que lhe acende ao topo, refletindo um escarlate difuso nas suas mechas castanho-aloiradas, parece ter algo a nos dizer. O bip, que acompanha a seta, soa numa coma abaixo de mi bemol, o que dói aos ouvidos bem treinados de um músico como Emerson. Mas ela, impassível, dirige-se tranquilamente à esteira de raios-X, como quem aguarda com as compras no caixa de saída de um supermercado.<br /><br />Rosiany, uma operadora relativamente novata na época, mas nem por isso menos perspicaz, nos dá os sinais.<br /><br />- Emerson, dá uma olhadinha, por favor. Parece granulado, mas não está muito nítido.<br /><br />O funcionário da portaria faz sinal para a passageira pôr a mala na bancada. Emerson inspeciona cuidadosamente a bagagem, tentando não olhar para o decote generoso da moça.<br /><br />- A senhora passou quanto tempo na Espanha?<br /><br />- Vinte e cinco dias, senhor.<br /><br />Uma conversa casual sempre acaba por aproximar seres de planetas tão diversos como o passageiro e o fiscal. E isso é importantíssimo, ajuda-nos a descobrir uma série de coisas. Mas o que Emerson iria descobrir naquele momento não estava na entrevista. Estava no fundo. Seria revelado por uma delicada incisão de um estilete. Como bom cirurgião, Emerson retira o objeto, o qual estava escondido no fundo falso da mala.<br /><br />- O que vem a ser isto, senhora? - indaga Emerson, com a delicadeza de um camareiro de hotel. A bela jovem não responde, apenas contempla com ar assustado um embrulho retangular, envolto em papel carbono.<br /><br />Emerson desfaz o pacote, revelando uma quantidade de papeizinhos e comprimidinhos coloridos, com cartinhas de baralho microscopicamente estampadas, além de uma massa disforme, de um cheiro estranho.<br /><br />- Será que é o que estou pensando? - emenda. A moça continua em silêncio, mas faz um gesto afirmativo com a cabeça.<br /><br />- Olha, a senhora não precisa ter medo de me contar o que tem aqui. Precisamos saber, afinal o que a senhora trouxe. Confie em mim.<br /><br />Emerson parecia mais um psicólogo do que um fiscal. Aos poucos, a moça foi contando tudo sobre o que trazia. Mil e quinhentos comprimidos de <span style="font-style: italic;">ecstasy</span>. Oitocentos papéis de LSD. Duzentos gramas de <span style="font-style: italic;">skank </span>[Que, para mim, até o dia em que soube do ocorrido, não significava nada além da banda musical].<br /><br />- Infelizmente a senhora está detida. Será encaminhada à polícia federal. É possível que seja presa.<br /><br />Naquele momento, a mulher chorou. Fichas de telefone me parecem algo um tanto obsoleto, mas, ao que tudo indica, a dela caiu. Atuar como mula em tráfico internacional de drogas é, por definição, uma bela fria.<br /><br />Emerson segue conversando com a moça, num misto de consolo e conscientização daquele indivíduo [a moça] sobre sua real situação. Tenta falar de amenidades.<br /><br />- Mas e o negócio, é bom mesmo? Dá barato? Qual a sensação?<br /><br />- Você fica assim: <span style="font-style: italic;">Ouuuu, ouuuuu, ouuuu</span>. - A mulher dá voltas com o indicador em torno da orelha. Naquele instante, nem parecia que tinha acabado de receber voz de prisão.<br /><br />No final, a polícia chega, chutando o balde. Agora, serão eles que entrevistarão a mulher. Nesse momento, a Alfândega sai de cena e nossos colegas policiais dão continuidade, fazendo com que seja cumprida a Lei. Emerson comparece às audiências, como testemunha do processo.<br /><br /></div>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-43596514276785120712009-10-02T23:32:00.000-07:002009-10-03T16:28:58.890-07:00Lencinhos de Quito<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDGf4psTuckLf0npLs9MwmSlWLxkw4i2d2ihRRqz1bAEtxTdNmoHj6a5txYWKBo1e5Eb-WhHnDUVj3E1uWwWaMnSW6Xp4FCpFLluBPRijNOzwErE4606zKlOgkGzhhdcfdCOe6PHQqmZ2x/s1600-h/echarpes.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDGf4psTuckLf0npLs9MwmSlWLxkw4i2d2ihRRqz1bAEtxTdNmoHj6a5txYWKBo1e5Eb-WhHnDUVj3E1uWwWaMnSW6Xp4FCpFLluBPRijNOzwErE4606zKlOgkGzhhdcfdCOe6PHQqmZ2x/s320/echarpes.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5388270056969374674" border="0" /></a><br /><br /><br /><div style="text-align: justify;">Início de plantão. Naquele dia, a dupla composta por mim e Marcos viria render o trio Emerson, Hélio e Maria Elena. Após os cumprimentos, Emerson nos dá o aviso:<br /><br />- Tem uns equatorianos aí, carregados de artesanato, em quantidade que configura destinação comercial. Pegamos alguns no meu plantão passado. As mercadorias ficaram retidas. É bom ficar atento.<br /><br />É sempre bom dar ouvidos aos avisos de Emerson. Fiquei imaginando como seriam esses cidadãos. Talvez baixinhos, com feições indígenas, bonitos, feios? Será que são mal-educados? E esses artesanatos, no que consistiriam? Fiquei imaginando uns barquinhos de madeira, sei lá. Sempre que tento pensar em artesanato, penso em barquinhos de madeira. Deve ser trauma da feira Hippie, à qual minha então esposa me obrigava a acordar às oito da madrugada do domingo para ir levá-la, em tempos idos. Acho que, por causa do sono, eu via tudo como se fossem barquinhos de madeira. Uns toscos, outros polidos, em fileiras intermináveis.<br /><br />As lembranças da minha infância conjugal se esvaem rapidamente, quando eu e Marcos descemos para atender ao desembarque do voo da madrugada, vindo de terras caribenhas. E não é que são eles que estão lá, os próprios - baixinhos, indígenas, inconfundíveis - a desembarcar com as tais <span style="font-style: italic;">artesanías</span>?<br /><br />Pois bem. Eis que abrimos as malas. Para minha decepção, não são barquinhos, e sim, echarpes. Milhares delas. Todas na mesma cor, no mesmo padrão. Meia centena de malas povoam as bancadas da Alfândega, todas elas abarrotadas de uma coisa só.<br /><br /><span style="font-style: italic;">¿Cuál es la destinación de las mercancías, señor?</span> - cometo a frase em um portunhol macarrônico, dirigindo-me aos latinos, num esforço inconsciente para fazer o "c" de "mercancías" soar como um "th" inglês, <span style="font-style: italic;">pero olvidandome</span> que isso só se faz em Madrid.<br /><br />- <span style="font-style: italic;">Ellas son producidas por nosotros, llegamos aqui para vender nuestra propia producción</span>. - tentam, com isso, esquivar-se os muambeiros.<br /><br />- <span style="font-style: italic;">Pero la cantidad caracteriza la destinación comercial de las mercancías, lo que no es permitido. Tenemos así que retenerlas.</span> - dou, assim, o veredicto, esquecendo-me ademais que, se são "mercancías", é óbvio que sua destinação é "comercial". Mas, vamos lá, são cinco da manhã e o cérebro já não funciona a contento. Ainda mais em espanhol.<br /><br />Neste momento, os latinos começam a protestar. Tentam insistir com Marcos, o supervisor. Ele não cede, e se irrita. Ameaça chamar a polícia. Eles param. Agora vêm até mim.<br /><br />- <span style="font-style: italic;">Señor, por favor, nosotros dependemos de la venta de las artesanías para comprar nuestro pasaje de vuelta.</span><br />- E<span style="font-style: italic;">s un problema de ustedes</span> - vocifero, deixando toda a minha compaixão na tigelinha da varanda de casa, onde dou comida para Bono Vox, meu cachorro.<br />- <span style="font-style: italic;">¿Usted tiene hijos?</span> - intercede uma jovem senhora com ares de Yanomami, na intenção óbvia de tocar meu pobre coração, enquanto amamenta a criança que está em seu colo.<br />- Sim, minha senhora, eu tenho <span style="font-style: italic;">hijos</span> [àquele ponto, já não me esforçava mais para me fazer entender no meu <span style="font-style: italic;">portunholês</span>] só que eu jamais mandaria meus <span style="font-style: italic;">hijos </span>pra tão longe, um país que eles não conhecem, com mercadorias ilegais, e sem a certeza de que voltariam sãos e salvos.<br /><br />Não teve jeito. Todas as malas foram retidas. É complicada a situação daqueles jovens, aparentemente pessoas de boa índole, induzidos a transportar mercadorias em situação irregular, aliciados por contrabandistas profissionais. Gostaria muito de poder ajudá-los, mas tudo o que podia fazer naquele momento é cumprir a Lei.<br /></div>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-5330525159252894042009-07-14T22:16:00.000-07:002009-07-14T23:40:25.476-07:00Pôr do Sol na Alfândega<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtMHBZX1UKJpR02RJ5NFVRxgnrgGE5_URnAFlBXXdAeMV5cgPpgUJhXZH_NdT-eewyScqSSdtFCGqsisuLmcbRlkfTPrQHr4HRKCn1wOywt1H36ajmht_92Ar862J7qLW_43REZqouMIPx/s1600-h/sunset.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtMHBZX1UKJpR02RJ5NFVRxgnrgGE5_URnAFlBXXdAeMV5cgPpgUJhXZH_NdT-eewyScqSSdtFCGqsisuLmcbRlkfTPrQHr4HRKCn1wOywt1H36ajmht_92Ar862J7qLW_43REZqouMIPx/s320/sunset.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5358558972884431842" border="0" /></a><br /><br /><br /><div style="text-align: justify;">Gosto da vivacidade com que Magalhães descreve certas imagens. Experiente, sabe lidar com situações que são tão corriqueiras quanto adversas. É é assim que nos conta: com brilho no olhar, barba bem aparada e cabelos que denotam a extensão da sua juventude. São casos comuns e tristes, mas que também fazem parte do dia-a-dia de uma Alfândega. Eu e Adriana, fiscal novata na área, escutamos com atenção.<br /><br />Pôr do sol de um dia qualquer. Recebemos um telefonema da transportadora. Uma urna nos espera. Sentimos uma tristeza que não é nossa. Chega, ansiosa, a família, para receber quem já se foi. É quando acontece o primeiro impacto: Seu ente querido não é mais um passageiro. Os idos, quando chegam, o fazem pelo terminal de cargas. E é extensa a caminhada até lá.<br /><br />Chegamos ao terminal. Empilhadeiras, carros e caminhões parecem ignorar o caráter solene do momento. Mandamos parar as máquinas. A família chega em seguida, triste como era de se esperar, mas também esbaforida, faminta. Vinda, em muitos casos, do interior na véspera, tendo amanhecido e passado o dia ali.<br /><br />Chegamos, então, até o corpo. Urna lacrada. Lançamos um olhar básico, discreto. Verificamos a documentação. Tudo em ordem. Liberamos, enfim. Há mortos que passam semanas até a volta ao país natal, devido às dificuldades com o transporte. Na maioria dos casos, as condições não são nada favoráveis: Se a família não dispõe de recursos, o governo estrangeiro fornece uma urna de alumínio padronizada, feia. Mas o pior de tudo é o uso político.<br /><br />Originários de algum micromunicípio do interior, em muitos casos os próximos do defunto contam com a pseudoajuda das autoridades locais. E é aí que fazem a festa com o sofrimento alheio. Vereadores, assessores de prefeitura e câmara e, muitas vezes, os próprios prefeitos vêm calcar-lhes as costas, fazendo de palanque o que deveria ser um esquife. Assumindo a responsabilidade pelo transporte do féretro, sentem-se no direito de proferir discursos intermináveis, em busca de votos, como se a dor da família não bastasse.<br /><br />Despedimo-nos, então, da família, transportadores, despachantes. Todo mundo com um ar solene, quase ensaiado. É um alívio, para os que reconhecem o costume último de enterrar-se os que já partiram.<br /><br />Magalhães termina a história, com o mesmo sorriso de antes. Vou descansar antes do voo das 3 da manhã. Adriana vai para a sala do registro, onde se declaram os bens levados na saída. O aeroporto parece propositadamente vazio. Todas aquelas histórias ainda parecem impressionantes para nós, novatos. Adriana não estranha o silêncio na sala. Passa pelo balcão, leva um café para a copinha. Requenta-o no microondas. Na volta, porém, algo no balcão a deixa paralisada:<br /><br />- Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhh !!!<br /><br />Eram apenas três passageiros, que entraram na sala sem fazer nenhum barulho. Eles riem. Adriana se recompõe. Rimos de tudo, enfim. É a nossa vida, penso.<br /></div>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-42160385440481532472009-04-29T10:09:00.000-07:002009-05-05T09:20:48.337-07:00Senhor não, Excelência!<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnPg8sCRWlK_dp8wLGs0hJVHKQ1cA3eNaGH3K-CPh254nlHecPqpYGWb6ySd5h5uS4_e4oqcLv8lDrEaYJiH0_5fyPbCcToZ6k3QuRrG20vx3E8-BklobHo3Z5SmieMuyg3AaMBmRhl0fJ/s1600-h/Fender+Japan+Stratocaster+ST72ctm.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 240px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnPg8sCRWlK_dp8wLGs0hJVHKQ1cA3eNaGH3K-CPh254nlHecPqpYGWb6ySd5h5uS4_e4oqcLv8lDrEaYJiH0_5fyPbCcToZ6k3QuRrG20vx3E8-BklobHo3Z5SmieMuyg3AaMBmRhl0fJ/s320/Fender+Japan+Stratocaster+ST72ctm.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330178158633155362" border="0" /></a><br /><br /><div style="text-align: justify;">Tinha uns vinte e dois anos, o rapaz. Parecia, e era, de fato, um bom moço. Mas como a ocasião faz o ladrão, e a necessidade o néscio, lá estava ele na Alfândega do Fim do Mundo. Ele e uma guitarra Fender, lindamente sonora, impecável de um brilho que lembrava um solo do Brian May. Pois bem, insistia em dizer o moço que era uma guitarra nacional, que comprou na loja de música da esquina. Aquela velha conversa à qual estamos todos acostumados. Emerson era nosso herói de plantão:<br /><br />- Mas senhor, essa guitarra terá de ser tributada. Não há nenhum indício que comprove que você, de fato, não a trouxe dos Estados Unidos.<br /><br />Emerson que, além de fiscal, é tocador em banda de jazz, sabia muito bem do que estava falando. Equipamento passível de tributação tem que deixar, ao passar pela aduana, um DARF devidamente pago e autenticado.<br /><br />É isso ou o equipamento fica. É o processo.<br /><br />E Emerson conscienciosamente analisa toda a documentação do jovem passageiro, quando, de súbito, é interpelado por um senhor, esse bem mais velho e menos compreensivo:<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Você aí. Você não tem autoridade nenhuma para olhar a documentação do meu filho.</span><br /><br />- Senhor, estamos apenas fazendo uma verificação de rotina.<br /><br />Emerson não se alterou. Experiente, já está acostumado com as asneiras que os passageiros proferem. A técnica, que vim a aprender posteriormente, é de deixá-los falarem até se cansar, para então podermos agir. Mas este passageiro era diferente.<br /><br />- <span style="font-weight: bold; font-style: italic;">Senhor não, Excelência!</span> <span style="font-style: italic;">O senhor está falando com um deputado estadual. Deve dar-lhe o devido tratamento. Este menino está portando sua guitarra de uso pessoal, deve deixá-lo passar.</span><br /><br />Vendo a arrogância com que se deparou, Emerson tenta acalmar os ânimos. Explica ao deputado que a lei nos obriga a fazer as verificações necessárias. Mas o deputado não se acalma, e põe mais lenha na fogueira.<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Você está de conluio com aquele outro fiscal, para extorquir dinheiro do menino</span>.<br /><br />Opa, existem asneiras que não podemos deixar passar. Acusações de extorsão são graves e Emerson agiu de acordo, chamando a polícia federal. Assim, foram todos parar na delegacia.<br /><br />Lá, o nobre deputado foi instado a reafirmar o que havia dito no recinto da alfândega. Porém, diante de policiais armados e de algemas na mão, ninguém confessa um crime assim tão facilmente. E caluniar um servidor público é um crime, não apenas contra o servidor em si, como ao País que ele representa.<br /><br />- Sabe o que é, é que o fiscal se alterou com meu filho, e fui em sua defesa. Não falei nada de grave contra estes fiscais.<br /><br />No final da conversa, não adiantaram muito os panos quentes de um deputado já mais calmo pela ação da força. Foi feito um boletim de ocorrências, em que se relatou o fato. O deputado perdeu uma bela chance de ter ficado calado e, por uma bobagem, poderia ter ido parar atrás das grades, ou, no mínimo, nas manchetes dos jornais. Se isso houvesse acontecido, no entanto, seria apenas mais uma, das tantas que o caudilho já aprontou.<br /></div>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-85881412511809051842009-03-22T14:38:00.000-07:002009-03-22T16:17:13.072-07:00Ideias sobre Jiboias na Antessala<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkt_Tw-t0GZeWrmhMKwFms6fg34S0H0pi9eZGLGY5lj-x60zXYYRCCbjfSnDZG01HMxRyAksD9bjQmLXoraEgyZuIEokRlGBQ85vNIae1Sn8ozHKAhQKB3krj1XxwuvKZPxzdKtIWi2Inl/s1600-h/jiboias_na_antessala.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 314px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkt_Tw-t0GZeWrmhMKwFms6fg34S0H0pi9eZGLGY5lj-x60zXYYRCCbjfSnDZG01HMxRyAksD9bjQmLXoraEgyZuIEokRlGBQ85vNIae1Sn8ozHKAhQKB3krj1XxwuvKZPxzdKtIWi2Inl/s320/jiboias_na_antessala.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5316152903376344594" border="0" /></a><span style="font-size:78%;">[foto: estudante de primeiro ciclo segurando uma jiboia]<br /></span></div><div style="text-align: justify;"><br /><br /><br />Já passamos de oitenta dias da reforma ortográfica. Isso mesmo, nossa ortografia foi reformada. Para quem não sabia, não precisou mais que um decreto presidencial para que mudássemos a nossa forma de escrever. Foram mudanças leves, afinal, porém importantes. Escondem, no entanto, um problema muito mais grave. São o analgésico leve, ministrado ao doente terminal.<br /><br />A ortografia é como uma jiboia. Está ali, à espreita, na antessala dos nossos projetos, sempre esperando para nos dar o bote, fazendo-nos errar feio. E ela tem ótima pontaria. Não há quem dela escape. Não tenho a menor ideia de quantos erros cometo. Tudo que sei é que, depois das mudanças, cometê-los-ei com mais frequência ainda.<br /><br />Por exemplo: somente no parágrafo anterior, quatro palavras tiveram sua grafia modificada pela reforma. São elas: <span style="font-style: italic;">jiboia, ideia, antessala, frequência</span>. As duas primeiras perderam o acento; a penúltima, o hífen; a última, por seu turno, perdeu o esquecido e quase imperceptível trema. Do ponto de vista do português de Portugal, algumas palavras também mudaram. <span style="font-style: italic;">Projeto </span>e <span style="font-style: italic;">ótima</span> assumiram a forma brasileira, antigamente grafada pelos nossos contemporâneos lusitanos como <span style="font-style: italic;">projecto </span>e <span style="font-style: italic;">óptima</span>.<br /><br />Poderia aproveitar o ensejo e falar que a língua portuguesa perdeu beleza, graça, entre outras coisas. Faria todo o sentido para mim, afinal eu gostava muito do trema, por exemplo. Parece que a frequência, sem ele, não é tão frequente assim. A falta dos acentos em <span style="font-style: italic;">ideia</span>, <span style="font-style: italic;">tramoia</span>, já ausentes há muito no português de Portugal, leva à tendência de lê-los com vogal fechada, como se lê em <span style="font-style: italic;">esteio</span>, por exemplo. Mas isso tudo é bobagem. Só quem vai ter problema com isso são as crianças, que infelizmente não vão conseguir distinguir as duas formas, de início. Mas as crianças são muito mais espertas do que nós, e tiram isso de letra. Nós é que temos um problema muito mais grave para resolver.<br /><br />Falar em reforma na ortografia parece patético, quando estamos em um país que não sabe escrever. Vocês já pararam pra imaginar a quantidade de pessoas que se dizem formadas, com curso superior nisso ou naquilo [e, de fato, o são], porém escrevendo coisas como <span style="font-style: italic;">geito</span>, <span style="font-style: italic;">menssagem</span>, <span style="font-style: italic;">excessão</span>? O que aconteceu com o ensino da língua em terras brasileiras, afinal?<br /><br />Não sei responder. Quem tem curso superior, hoje em dia, não pegou o tempo da aprovação automática, por exemplo. Depois da aprovação automática [ou qualquer nome bonito que venham dar a isso] ter sido aprovada nas escolas públicas, nem sei mais o que esperar. Talvez me contente em ver as pessoas escreverem mais em miguxês do que em português.<br /><br />Não sei se é a mídia que desincentiva a leitura [e a Internet não está inocente nesse caso], mas o fato é que as pessoas parecem estar desaprendendo a cada dia. A leitura por prazer é desmotivada, quando as escolas "obrigam" os alunos a ler um dois "livros de literatura" por semana ou mês. Não tenho as respostas, apenas fica o alerta. A mediocridade está à espreita, não apenas no ensino do português, mas em tudo relacionado a estudo. As pessoas querem passar, querem notas e diplomas, mas consideram desnecessário estudar. Uma avalanche de profissionais de meia tigela está a caminho dos consultórios médicos, escritórios de advocacia, direções de empresas, salas de aula.<br /><br />A ortografia é apenas um sintoma, uma febre. Nosso doente está em estado terminal e não adianta lhe dar analgésicos. A picada da jiboia é certeira e letal. Precisamos fazer algo.<br /></div>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com27tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-54876487259375634772009-03-09T15:42:00.000-07:002009-03-10T15:32:37.553-07:00Desembarque dos Excluídos<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpboTbcQYRo1Z9Ji5Yf19sfC-cOYS4uUAPWWnU2f7RZKl_F-n7LsSN6fqyB8DQw7-5vSP3lPpZklyV1ubsnnvrXA0Ecn9f8LO9jO93VRJOH-obx8g6ElvmY8dEw8xABpn6jzoTXozM7nRS/s1600-h/pobreza.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 267px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpboTbcQYRo1Z9Ji5Yf19sfC-cOYS4uUAPWWnU2f7RZKl_F-n7LsSN6fqyB8DQw7-5vSP3lPpZklyV1ubsnnvrXA0Ecn9f8LO9jO93VRJOH-obx8g6ElvmY8dEw8xABpn6jzoTXozM7nRS/s320/pobreza.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5311350865158589010" border="0" /></a><br /><span style="font-weight: bold;">[Blogagem Coletiva - Inclusão Social]</span><br /><br /><div style="text-align: justify;">Aeroporto Internacional do Fim do Mundo. Sinto uma estranha alegria quando recebo pessoas que, após viverem anos a fio como imigrantes ilegais nos Estados Unidos, retornam à pátria natal, fugidos da grave crise que se instalou por lá. Posto que o país natal que os deixou partir, por não ter nada a lhes oferecer a não ser a pobreza, é o mesmo país natal que os abriga de volta. E o que lhes tem a oferecer agora? O mesmo que o país estrangeiro outrora oferecera - Esperança.<br /><br />Pois é. Estamos em dia de blogagem coletiva. Eu, como um incluído digital e social, prometi para a Ester, do blog Esterança, discutir esse assunto aqui.<br /><br />Porém, mais uma vez aqui estamos, incluídos digitais e sociais, discutindo o estigma da exclusão. E que temos a dizer? Mais uma vez são os incluídos que discutem a exclusão, os brancos discutindo a discriminação racial sofrida pelos negros e indígenas, ricos discutindo a pobreza. O sentimento geral é que esse tema está exaurido, as idéias são as mesmas de anos atrás, e ninguém põe absolutamente nada em prática.<br /><br />Ledo engano. A inclusão é um tema que merece estar em nossa pauta diária. Muita evolução se conseguiu nesse sentido, e muitas idéias já foram postas em prática. Algumas muito boas, outras nem tanto. O fato é que muita gente já não está mais parada, estamos caminhando em várias frentes. E você, o que vai fazer? Eis alguns números. Vocês sabiam que:<br /><br />- Metade da população mundial - isso, mais ou menos três bilhões de pessoas - vivem com menos de dois dólares por dia [ou cinco reais e setenta e dois centavos, pela última cotação que vi na Alfândega]?<br /><br />- Um quarto da população mundial [cerca de um bi e meio de gente] não teve dinheiro para comer nos últimos doze meses?<br /><br />- Menos de 1% da água existente no planeta Terra é potável? E pior, cerca de 15% da população da América Latina não tem acesso nenhum a ela?<br /><br />Os três parágrafos acima foram os que mais demorei para escrever. Haja pesquisa! E posso ter errado, claro. Mas a idéia central não muda. Nós, sim, precisamos mudar e entender que a construção de uma sociedade justa [e não "mais justa", pois a justiça não tem medida, ela ou é ou não] é algo que tem muita pressa. Precisamos parar de agir como os "Passageiros de Elite" da Alfândega, que simplesmente ignoram o mundo que imaginam estar sob seus pés.<br /><br />O pior tipo de exclusão social é a exclusão da cidadania. É quando o Estado finge que você não existe. Ou pior, o trata como uma sujeira que precisa ser eliminada. Pude ver isso na expressão desses ex-emigrantes ilegais, sem identidade ou nome, sem apoio, sem plano de saúde, sem educação. Aqui retornando de mãos vazias, mas com os olhares repletos de uma esperança que se baseia na cidadania que vieram aqui resgatar.<br /><br />Vim de uma infância bastante pobre e sofri muito com isso. Mas o crescimento da economia em geral e, principalmente, a criação de empregos beneficiou meus pais e irmãos, e saímos da pobreza. Isso sem precisar de assistencialismos, aos quais jamais recorremos. Talvez isso seja uma dica para as gerações futuras. Não é o tamanho do bolo que vai assegurar uma parcela justa da economia às famílias mais pobres. É como você o divide.<br /><br />Eu não tenho nenhuma resposta. Apenas fiz perguntas que encontrarão resposta em nossas próprias ações. É nisso que acredito.<br /><br /></div>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com21tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-91837195911600367872009-03-08T16:45:00.000-07:002009-03-08T17:31:07.995-07:00Alfândega sem Flores<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAqgbj4Hd8RcaOAHk9RqmAQBrjoaw7ctgwEjr-j_4XwpDFyWEJkhYd19J1tu26aG2pS1wWhKL3HIZSdsgHQwNj2icD8C0U6XeKTy4VSmKDNYNyX-AUNgJ4WNJOZHrpyc_u383Fx2Ahj0Cf/s1600-h/flores.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 205px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAqgbj4Hd8RcaOAHk9RqmAQBrjoaw7ctgwEjr-j_4XwpDFyWEJkhYd19J1tu26aG2pS1wWhKL3HIZSdsgHQwNj2icD8C0U6XeKTy4VSmKDNYNyX-AUNgJ4WNJOZHrpyc_u383Fx2Ahj0Cf/s320/flores.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5310976345045346946" border="0" /></a><br /><br /><br /><div style="text-align: justify;">Nossa história começa com Magalhães, o fiscal que esbanja sorrisos enquanto cumpre o seu dever:<br /><br />- A Srta. está trazendo flores?<br /><br />Flores, assim como sementes e partes de vegetais vivos, infelizmente não são admitidos pela legislação atual. Magalhães, porém, achou uma maneira inteligente e bem-humorada de checar se o viajante, de fato, ingressa ao País com o proibido material botânico.<br /><br />Mas a Alfândega é mulher. O artigo "a" ressalta a feminilidade da palavra, posto que em português os substantivos quase sempre denunciam seu gênero. E por que não há flores decorando os recantos do recinto? Provavelmente pela proibição legal, dada a elas e aos vegetais em geral. Que pena. A Alfândega é essa mulher bela, mas sem retoques. Bela e severa. Sua severidade no tratar é contraponto e paradoxo à doçura com que trata a tudo e todos.<br /><br />Mulheres são belas assim. As flores apenas tentam imitar-lhes a harmonia e suavidade. Mulheres são fortes. Os homens apenas tentam copiar-lhes os dotes de resistência e perseverança. Mulheres são doces. Não há sacarídeo ou adoçante que reproduza a doçura de um beijo.<br /><br />E é trabalhando numa Alfândega sem flores que percebo a verdadeira beleza, força e doçura que por ali passa: são mulheres fiscais, mulheres comissárias. Mulheres passageiras, eternas mulheres.<br /><br />E lembremo-nos, cada mulher é um universo, uma miríade de personalidades, um buquê de emoções. Marias Helenas, Cléos, Dalilas, Judites e... as Ermelindas. Todas elas convivem em um corpo, que é belo não importa a forma física, peso, idade. Mulheres criam a vida.<br /><br />Diferentemente das flores, as mulheres são bem-vindas. Aqui e em toda parte.<br /><br />Magalhães volta ao alojamento para o seu ritual. Bom banho, perfumes, terno bem passado, cravo na lapela. "Para quem você tanto se apronta, Magalhães?" - pergunta um outro fiscal.<br /><br />- Eu me apronto para a Mulher. Quem quer que ela seja, e a qualquer hora que chegue, quero estar belo e pronto para recebê-la.<br /><br />É assim que devemos tratá-las. Com nosso carinho, respeito, dedicação. Não importa quem ela seja, ela merece nossa doação total, pois quando se doam, o fazem de corpo e alma.<br /><br />Mulheres, parabéns pelo seu dia. A Alfândega as homenageia sem flores, pois as flores são vocês!<br /><br /></div>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-71074949223565170272009-03-02T18:05:00.000-08:002009-11-14T13:31:26.134-08:00O dia em que a Esteira Parou [ ou: Um Cínico de Ocasião ]<div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMmm_n2ujbwI6PCl7lTZ6-etyH3eXwxprFREvmuq7_BstQx0iTJS0rkNb4_SRmnKBTTD2x3gIaDwjoJZCzud-h7xEfaZyoIm3SxoiIOrHwnsKOncmsUqalEM5UkmndPXuAb7o883yA7Aev/s1600-h/PELSCANS7.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5308778688736398770" style="margin: 0px auto 10px; display: block; width: 250px; height: 180px; text-align: center;" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMmm_n2ujbwI6PCl7lTZ6-etyH3eXwxprFREvmuq7_BstQx0iTJS0rkNb4_SRmnKBTTD2x3gIaDwjoJZCzud-h7xEfaZyoIm3SxoiIOrHwnsKOncmsUqalEM5UkmndPXuAb7o883yA7Aev/s320/PELSCANS7.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div></div></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:78%;">[foto: Scanner de raios X, caso você nunca tenha visto um]</span><br /></div><span style="font-size:78%;"><br /><br /></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">A tarefa de abrir malas alheias, acredito, encontra-se entre as mais desagradáveis do planeta, só perdendo, talvez, para a inspeção pessoal [revista], passar camisas de linho e ouvir Jorge e Matheus. Pois bem, é para evitar ao máximo o primeiro dissabor aqui relacionado que nós, da Alfândega, dispomos de um aparelho de raios X - que nos dá uma ideia do que há nas malas, muitas vezes dispensando a necessidade de abri-las. Imagino que, para o último tipo de dissabor relacionado anteriormente, o pessoal da pista possui um tapa-ouvidos, para a óbvia hipótese de alguém estar tocando música sertaneja no toca-fitas do avião.<br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Infelizmente, nem toda a tecnologia do mundo é à prova de mau funcionamento. Pois no dia em que a esteira de raios-X parou, acabamos por ter de recorrer a outras técnicas, antes do desconforto de ter que abrir todas as bagagens. Assim, como bons samaritanos, passamos ao inocente exercício de perguntar, a cada passageiro, o que trazia. E é aí que a coisa começou a complicar.<br /><br /></span><span style="font-size:100%;">- O senhor está trazendo algum alimento?<br /></span><span style="font-size:100%;">- Não, só chocolates.<br /></span><span style="font-size:100%;">- Traz algum equipamento eletrônico?<br /></span><span style="font-size:100%;">- Não.<br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Nesse momento, para nossa sorte [ou azar, dependendo do referencial] a esteira de raios-X volta a funcionar. Como o passageiro já estava na fila, nada mais justo do que fazer sua bagagem passar pelo aparelho. E eis que descobrimos, na sua bagagem, alimentos e equipamentos eletrônicos. Todos de última geração, inclusive os alimentos.<br /><br /></span><span style="font-size:100%;">- Mas o senhor não havia dito que não tinha equipamentos eletrônicos em sua bagagem?<br /></span><span style="font-size:100%;">- Veja bem. [nota do editor: "veja bem", como bem sabemos, é uma expressão comumente utilizada para desdizer o que foi dito.] Eu disse a você que não trouxe nenhum equipamento eletrônico que tenha levado daqui.<br /></span><span style="font-size:100%;">- O senhor não disse isso. Disse apenas que não havia trazido nada.<br /></span><span style="font-size:100%;">- Eu disse sim.<br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Vocês sabem o que os mentirosos e os carecas têm em comum? Ambos detestam ser chamados assim. Dessa maneira, pensei em não continuar a conversa. Afinal de contas, os equipamentos já haviam sido descobertos, tudo o que tinha a fazer era cobrar o imposto. Mas o homem insistia.<br /><br /></span><span style="font-size:100%;">- Qual a minha punição pelo que fiz?<br /></span><span style="font-size:100%;">- O senhor arderá no fogo do inferno - brinquei.<br /></span><span style="font-size:100%;">- Mas eu disse a você que não trazia equipamentos que saíram do Brasil.<br /></span><span style="font-size:100%;">- Senhor, acho melhor não insistir nisso. Os equipamentos já estão aí, vou cobrar-lhe o imposto e mandá-lo embora. Veja, seus filhos estão aí. Se o senhor não se constrange em sustentar uma mentira diante de mim, tente pelo menos dar um bom exemplo a eles.<br /><br /></span><span style="font-size:100%;">E assim vai, mais um senhor de meia-idade, aparentemente gente boa, como tantos que já passaram por aqui. Mas é sempre bom atentar para uma regra básica, antes de querer confiar em todos. Se a ocasião faz o ladrão, também faz o cínico - Tudo vale na hora de esconder a muamba.</span><br /></div>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-8561460540809512512009-02-23T08:59:00.000-08:002009-02-23T09:11:43.357-08:00Soneto do Encontro<div align="left">.</div><div align="left"></div><div align="left"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 450px; CURSOR: hand; HEIGHT: 338px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://web.prover.com.br/nominato/o%20nascimento%20da%20luz.jpg" border="0" /><span style="font-size:78%;"> <blockquote><p align="center"><span style="font-size:78%;">[foto: O Nascimento da Luz]</span></p></blockquote><br /></span><br /><br /><span style="font-size:130%;">Um homem que era, em tudo, tão provecto<br />Que não se dava ao bem da vaga espera<br />Sob uma forte luz, que o incinera<br />Seu corpo volve, agora circunspecto<br /><br />Ninguém jamais o vira em tal aspecto<br />Com o coração ardendo, como fera<br />Um brilho em tal fulgor, como quimera<br />Projeta-se em seu corpo, e no intelecto<br /><br />E desce aos vales do âmago da dor<br />Volteia nas montanhas do prazer<br />Com turbulência e paz, ódio e amor<br /><br />Assim descobre o homem seu valor<br />No encontro de seu ser com o outro Ser<br />Um lance, criatura e Criador. </span><br /><span style="font-size:130%;"></span></div><p><span style="font-size:130%;"><br />© Joeldo Holanda</p><div align="left"><br /></div></span>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-5756500762780407752009-02-20T06:46:00.000-08:002009-02-20T07:00:58.507-08:00Em Tempo!<span style="font-size:130%;"><strong>Comentário de um Fiscal</strong><br /><br /><em>Jonas, o nosso fiscal-herói do texto de 09/01, com o título "O Docinho Proibido [mas nem tanto]" havia me enviado uma mensagem e pediu para publicá-la, mas acabei me esquecendo...</em><br /><em>Publico-a aqui, para deleite dos demais leitores [Jonas, perdão pelo atraso]:</em><br /><br />"Agradeço pela demonstração de compreensão dos comentaristas aqui.<br />Obviamente tenho muito a me desculpar com a vítima da história, cidadã com pleno direito de trazer os bolinhos, e agradecer pelo bom humor com que encarou meu vexame.<br />A mim, resta estudar mais! (vixe, haja legislação)<br />Joeldo, fico grato a você pelo brilhantismo no compatilhamento dessa minha experiência com todos.<br />Abraço"<br /></span><br />Jonas, não há de quê. Eu e todos os leitores também agradecemos pela sua história, aqui meramente transcrita [e levemente enfeitada, risos]<br />Forte Abraço !<br />Joeldojoeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-18684486980030922732009-02-18T21:07:00.000-08:002009-02-18T21:11:52.079-08:00Muros de Mim.<br /><a href="http://tripintochina.com/files/GreatWallOfChina2.JPG"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 528px; CURSOR: hand; HEIGHT: 396px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://tripintochina.com/files/GreatWallOfChina2.JPG" border="0" /></a> <div align="center"><span style="font-size:78%;">[foto: Grande Muralha da China]</span></div><span style="font-size:130%;"><br /><p><br />O meu sentir percebe o mundo que me cerca<br />E jamais podia, não fosse eu mesmo o mundo<br />E quanto mais me cerco, mais de ti separo-me<br />E, em existências múltiplas, de mim me dissocio.<br /><br />Olho, e ao ver, me vejo, em mim, insano muro<br />E sou, da mesma forma, as nuvens ao meu topo<br />De vez que não me enxergo o fim, só minha face<br />Oculta em meio à dura pedra de existir.<br /><br />Percebo em tudo o ardor de ti que me reprime<br />E faz de mim barreira para tudo, e um dia<br />Fará do meu ser vítima de mim, e então<br />De tanto te negar, me anularei, e assim,<br /><br />Aniquilar-me-ei de tanto que te anulo em mim.</p><p><br />© Joeldo Holanda</span></p>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-12814331807144541312009-02-16T09:24:00.000-08:002009-02-16T14:12:33.930-08:00Passageiros de Elite<div align="justify">.</div><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2wLoVEkOPThWXKfdmL7Th4_dDSZSEfLphyphenhyphenhyphenhyphen2zoZOKVVt5AMB0KqLTSECoOMwfbiUjMLttgrgrYGEliG7lp151FcnIXGGmZ4tuV3uFoakkjMZ948-llEfktQ-QAg1XkD66mJml9PTms5R/s1600-h/tropa-de-elite03.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5303480881858794034" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 214px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2wLoVEkOPThWXKfdmL7Th4_dDSZSEfLphyphenhyphenhyphenhyphen2zoZOKVVt5AMB0KqLTSECoOMwfbiUjMLttgrgrYGEliG7lp151FcnIXGGmZ4tuV3uFoakkjMZ948-llEfktQ-QAg1XkD66mJml9PTms5R/s320/tropa-de-elite03.jpg" border="0" /></a> <blockquote><p align="center"><span style="font-size:78%;">[foto: personagem burguesa do filme Tropa de Elite]</span></p></blockquote><br /><div align="justify">Levo uma vida simples. Não tenho muitas posses; meu carro é simples; guardo apenas o suficiente pra garantir uma vida sem sobressaltos. Tenho, enfim, um salário digno, posto que consigo viver dentro dele. Poderia habitualmente viajar para o exterior, mas não sinto vontade. Fá-lo-ia caso houvesse uma necessidade específica, como executar algum serviço, fazer um curso, ou aprender uma nova língua.<br /><br />Aqui no blog, já dei alguns exemplos de pessoas que viajam para o exterior, e se valem desse hábito para se distinguir dos outros, como <strong>elite social</strong>. E pior - assim devidamente distinguidos, julgam ter algum tipo de privilégio em relação aos demais, ditos não viajantes, e por conseguinte, não participantes da elite.<br /><br />Sinceramente, não faço a menor ideia de onde tiraram essa bobagem.<br /><br />Na Alfândega, somos todos viajantes. Há voos internacionais quase tão baratos quanto uma passagem Belo Horizonte - São Paulo. Em tese, qualquer assalariado poderia bancá-los. As elites, porém, se consideram acima das leis, do bem e do mal, por estar portando um bilhetinho que custou algumas centenas de reais. Haja paciência. Na sua cegueira e arrogância, falam mal do Brasil, esquecendo que foi neste país que obtiveram a riqueza que gastaram lá fora. Voltam cuspindo cobras e lagartos, como se se maldissessem pelo simples fato de morarem aqui.<br /><br />E é nesse momento que meus ouvidos se transformam em autênticos porta-joias, tantas são as pérolas que vêm abarrotá-los, vindas dos nossos queridos <strong>Passageiros de Elite</strong>:<br /><br />- "Vocês não têm é condições de viajar, por isso ficam aí fiscalizando !" </div>[Claro que temos condições, querido passageiro. Basta tirar férias. Não estando em serviço, somos indistinguíveis de vocês.]<br /><br /><br />- "Eu tenho condições de comprar e trazer o que eu quiser!"<br />[Então trate de ter, também, condições de pagar o imposto.]<br /><br /><br />- "Agora vocês vão arrumar minha mala!"<br />[Cara passageira, somos seus fiscais, não seus assistentes. Aqui fazemos uma justa divisão de tarefas. Nós desarrumamos a sua mala, e você a arruma. Aliás, se tivesse pedido com jeito, poderia até tê-la ajudado, e com prazer.]<br /><br /><br />- "Você não sabe que essa rua fica no bairro tal? Eu moro na Zona Sul, meu filho."<br />[Prezada passageira, se seus filhos são presidiários de um apartamento no asfalto da zona sul, o problema é todo seu. Não sou funcionário dos Correios. Tenho a mera missão de anotar seu endereço, para que seja devidamente rastreada, caso venha a burlar o Fisco.]<br /><br /><br />- "Vivo sendo parado na Alfândega! Só no Brasil mesmo uma coisa dessas! Aqui não é um país sério!"<br />[Há quem considere que o Brasil não é um país sério, mas a nossa fiscalização aduaneira funciona. Então, vá procurar a falta de seriedade do nosso país em outros lugares, não aqui.] </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">.</div>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-76600035058759482052009-02-09T21:26:00.000-08:002009-02-10T11:52:20.149-08:00Declaração<div align="center">.</div><p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhl8VmuaT955QQw1b8Iy-SypG1bZbQLqd0qM7n0AjziOG_KWNxRmv-5ArxvgPvzp4Na4cUqt8kqreiQWPo83dOvJsxmkBWngGLTM8NPyURaB-9zcpwiQiT7Usii2EuEdQPfNmd826hGFG6c/s1600-h/tarde.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5301036993089151106" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 213px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhl8VmuaT955QQw1b8Iy-SypG1bZbQLqd0qM7n0AjziOG_KWNxRmv-5ArxvgPvzp4Na4cUqt8kqreiQWPo83dOvJsxmkBWngGLTM8NPyURaB-9zcpwiQiT7Usii2EuEdQPfNmd826hGFG6c/s320/tarde.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><br /><span style="font-family:arial;"><span style="font-size:130%;">Todas as tardes são inúteis<br />Incluindo aquela em que eu nunca te amei<br />Há um tempo de delírio dentro de todas as horas<br />Quando, então, eu me deito e canto<br />A cantiga do sol.<br /><br /><br />E o céu, azul de tanto me ver te amar sozinho<br />Foi contar à lua ainda prenhe da noite<br />Que eu não te amava,<br />Mas eu neguei tudo.<br />Como eu vou te amar, Maria?<br /><br /><br />Se já amei, e assim sou desamor para todo o resto do mundo,<br />Ou nunca amei, e então sou Judas Iscariotes,<br />E amei demais, e assim sou eu mesmo,<br />Como te amar, se sou só um homem?<br /><br /><br />Não me engano: És mulher e universo<br />E chamas-me ao que sou de homem<br />Ao elevar-me à minha própria pequenez.<br /><br /><br />Mas estou avisado: Aquela tarde, que é passado,<br />Tarde de delírio, onde todos os sonhos são inúteis,<br />Em que o meu pensamento se perdia em calores do ocaso,<br />Inóspitos, cearenses e voláteis,<br />Aquela, exatamente aquela tarde,<br />Eu nunca te amei.<br /><br /><br />Nem jamais te amarei aquela tarde.</span> </span></p><p><span style="font-family:Arial;"></span> </p><p>© Joeldo Holanda </p><p></p><p align="center">...</p>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-23985887834720872942009-02-05T13:25:00.000-08:002009-02-05T15:49:54.626-08:00O Retorno da Ermelinda<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPrvq5d3erMmR3QwW9naeATRSbB7U0Ui7N41ngEqM4GIrMtF8gq5DvZ1e0bY3IDEFhANDUgCLlSjr1yMgxzbwV3cNta052-eL8OM-6kTVqkmlARJhf0Wea1LJdalPoApSjzyMsPLewFkAP/s1600-h/DSC03583.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5299448049998560354" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 127px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPrvq5d3erMmR3QwW9naeATRSbB7U0Ui7N41ngEqM4GIrMtF8gq5DvZ1e0bY3IDEFhANDUgCLlSjr1yMgxzbwV3cNta052-eL8OM-6kTVqkmlARJhf0Wea1LJdalPoApSjzyMsPLewFkAP/s320/DSC03583.jpg" border="0" /></a> <blockquote><p align="center"><span style="font-size:78%;">[atenção: foto meramente ilustrativa]</span></p></blockquote><br /><div align="justify">Estamos de volta ao Aeroporto do Fim do Mundo. Por aqui circulam juízes, médicos, padres, advogados. Também pedreiros, carpinteiros, artesãos, todos desistidos do sonho americano. Casais que não falam a mesma língua. Crianças de olhos fartos de parques temáticos e passeios colossais. Todos imbuídos do sonho da fartura, da abundância, que a experiência internacional propicia. E nós, pobres fiscais mortais, sempre à sua espera e com a missão espinhosa de cumprir a lei, a despeito de todas as esperanças frustadas que isso venha a causar em todas aquelas almas.<br /><br />Súbito, vem a interromper esses pensamentos uma certa Ermelinda. Homônima, talvez, de uma personagem antes citada por aqui, e com quem certamente guarda características em comum. Seu alvo: Nosso prezado e competente operador de raios X, o Pedro.<br /><br />Pedro parece um anjo de terno e gravata. Simpático, correto, tem um ar sereno e um semblante sério. Não que não se relacione bem, ou não ria das nossas piadas - Apenas é alguem centrado no seu papel. E isso é muito importante para o nosso trabalho. Mas agora, Pedro é mais uma vítima de Ermelinda.<br /><br />Ermelinda é uma típica perua. Calça larga, esvoaçante, colorida. Cabeça coberta pelo par de óculos escuros, pescoço envolto por um xale. Uma echarpe de seda esconde-lhe parcialmente as curvas, rechonchudas mas rasas, como aquelas que exibe uma montanha rebaixada pela ação da erosão.<br /><br />- Oiii, Pedro!<br /><br />Estranho a expressão de familiaridade com que Ermelinda o aborda.<br /><br />- Você a conhece? - Pergunto. Ele sacode um "não" com a cabeça. Pedro é de absoluta confiança. Com gestos, deu a entender que se tratava de uma "voadora frequente".<br /><br />"Aí vem problema." - Pensei tão alto, que deu para ouvir até da pista de pouso.<br /><br />Pois dito e feito. A Ermelinda começa a esbravejar. Ela trazia, pra variar, computadores portáteis. Vários. Caríssimos.<br /><br />- Está vendo como é o Pedro, o funcionário de vocês? Ele deixou passar duas malas, dos outros passageiros, cheias de laptops, e só barrou a minha! O Pedro implica comigo!<br /><br />Só para esclarecer: o operador de raio X não barra ninguém, apenas alerta ao fiscal da presença de objetos de valor nas malas, sendo o fiscal responsável por interpelar o passageiro. Mas no calor do andar da esteira, o passageiro acaba tendo essa impressão. Pois isso foi um prato cheio para a Ermelinda.<br /><br />- Vejam, olhem, Esse Pedro me discrimina! Favoreceu a outras pessoas! Somente a minha mala ficou! Isso é uma injustiça!<br /><br />Expliquei à passageira que, mesmo se outras malas houvessem passado com os equipamentos, poderia haver um motivo, como os equipamentos serem de procedência nacional, ou já estarem regularizados junto ao Fisco. Mas nada convencia a Ermelinda.<br /><br />- Tem duas pessoas lá fora que, se vocês prometerem que não vão fiscalizá-las, eu mostro! Eles vieram com equipamentos novinhos, importados, sem nota!<br /><br />- Senhora, se alguém entrar aqui, vamos fiscalizar sim.<br /><br />Fechou o tempo. A mulher ameaçou chamar a polícia, os bombeiros, o Ibama, sei lá quem. Comecei a refletir se a fiscalização por amostragem, que é o que fazemos, é algo realmente justo, uma vez que não barra todos, apenas quem a setinha seleciona. Depois lembrei que não era o caso. Mas não havia tempo para filosofar. Fomos olhar o banco de imagens do raio X.<br /><br />Nada. Nem um radinho de pilha. Mas a mulher continuava esbravejando.<br /><br />- Vocês vão ver! Isso é uma injustiça. Eu juro que eles passaram por aqui, abarrotados de coisas!<br /><br />- Senhora, não passou nada.<br /><br />- Como assim, você está dizendo que eu estou mentindo?<br /><br />- Isso mesmo. - Fui o mais seco e direto que podia ser. - A senhora está, sim, mentindo. Muita gente mente por aqui, senhora. Para gente assim, temos uma multa por falsa declaração, e poderíamos cobrá-la da senhora. Mas não vamos fazer isso. Apenas gostaria de pedir para a senhora permanecer calada e pagar o imposto.<br /><br />Mas a mulher não calou. Falou, falou, falou. Quando vi que estava quase perdendo a calma, saí do recinto, à guisa de buscar um DARF na impressora. Foi quando a mulher soltou esta pérola para Haroldo, o outro fiscal:<br /><br />- Sabe, Sr. Fiscal? Eu tenho um apartamento fantástico no São Gotardo, na zona sul de Fim do Mundo. Enorme, com cobertura. E meu marido está viajando. <em>Quem sabe você não iria lá, me fiscalizar?</em><br /><br />O fiscal fez de conta que não era com ele. Pedro caiu na risada. Chego de volta com o DARF e o entrego à mulher. Parecia que eu estava entregando uma cebola verde, descascada. A mulher se desfez em lágrimas. Mas pagou. </div><br />Outro dia, outro vôo, Pedro está novamente na operação. E olhem quem vem chegando novamente: Ermelinda. Lá está na fila da seta. E, como não poderia deixar de ser, acena com um ar cínico:<br /><br />- Oiii, Pedro!<br /><br />Ah, se eu estivesse nesse plantão. Mas estavam outros fiscais, que não conheciam Ermelinda. Chega o momento crucial, da pré-seleção. Mas desta vez, deu <em>seta verde</em> para a mocréia.<br /><br />- Tchau, Pedro! - Acena novamente a mulher, desta vez com um sorriso.<br /><br />Sorria, Ermelinda. Um dia você vai descobrir que o crime não compensa. Nem a mentira, tampouco a muamba. </div>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com23tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-10419415431583950882009-01-28T06:06:00.001-08:002009-01-28T10:25:28.568-08:00Pássaros Urbanos<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivIwqSrBV_f1V9NK8tiyfmEMKCljvQttzAl7gBfM-q0Nn9oSe_1d3hR9csMwlO1Lv49NFjmey19Et4gVznw06BqFK3GmpQZca3dhpP4VHZJqB8GoD6-qCgMT4I7BWP6KR2ADZ5jTJbHSIx/s1600-h/andorinha_solitaria.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5296346268848965058" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 249px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivIwqSrBV_f1V9NK8tiyfmEMKCljvQttzAl7gBfM-q0Nn9oSe_1d3hR9csMwlO1Lv49NFjmey19Et4gVznw06BqFK3GmpQZca3dhpP4VHZJqB8GoD6-qCgMT4I7BWP6KR2ADZ5jTJbHSIx/s320/andorinha_solitaria.jpg" border="0" /></a> <blockquote><span style="font-size:78%;">[foto: Andorinha - Série Pássaros Urbanos, por Bermudes]</span></blockquote></div><br /><span style="font-size:130%;"><span style="font-size:85%;">[para música de <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Lidu%C3%ADno_Pitombeira">Liduíno Pitombeira</a>]</span><br /><br /><br />Sob o sol das cidades, observo<br />O debater de inverossímeis asas<br />A namorar o cimo dos sobrados<br />E a devotar seu canto pelas casas.<br /><br />São pássaros do tempo, que floreiam<br />A lida inconsistente das calçadas<br />Pairando em tons de dúvidas e sombras<br />Sobre as certezas surdas das estátuas.<br /><br />Os pássaros sem pouso são filósofos<br />Eivados de calor e poluição<br />Que não vêem mais folhas sobre os postes<br />Nem crêem que há mais frutos pelo chão.<br /><br />São meio heróis, os pássaros do asfalto<br />Divagam em patética insistência.<br />Fazendo coro à frigidez da chuva,<br />Reverberando aladas consciências.<br /><br />Os pássaros sem rumo dialogam<br />Com o insensato canto do seu mundo<br />Que ecoa, desmedido, em seus pilares<br />Unissonamente, a cada segundo.<br /><br />São pássaros urbanos, que navegam<br />Na forte ventania do progresso<br />Dançando a valsa dos próprios destinos<br />Voando em brancas nuvens se repintam<br /><br />No céu azul que ora amanhece.</span><br /><span style="font-size:130%;"></span><br /><span style="font-size:130%;"></span><br /><span style="font-size:130%;">© Joeldo Holanda</span>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com19tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-6689231970745796722009-01-25T18:36:00.000-08:002009-01-25T18:50:22.246-08:00memeRecebi do <a href="http://eumeuoutro.blogspot.com/">Blog de Fred Matos </a>a seguinte tarefa:<br /><br />1-Agarrar o livro mais próximo;<br />2-Abrir na página 161;<br />3-Procurar 5ª frase completa;<br />4-Colocar a frase no blog;<br />5-Repassar pra 5 pessoas.<br /><br />O livro mais próximo é “O Universo numa Casca de Noz” de Stephen Hawking, versão em português (estava na ponta da prateleira da estante, ao lado da mesa onde repouso o notebook).<br />Na página 161 a 5a frase [e subsequentes] diz:<br /><br /><em>“A vida parece ter se originado nos oceanos primordiais que cobriam a Terra há 4 bilhões de anos. Como isso aconteceu, não sabemos. Pode ser que colisões aleatórias entre átomos formaram macromoléculas capazes de se reproduzir e de se reunir em estruturas ainda mais complexas. O que sabemos é que, há 3,5 bilhões de anos, a altamente elaborada molécula DNA surgiu.”</em><br /><br />Minhas 5 vítimas são:<br /><br /><a href="http://ventosdesencontrados.blogspot.com/">Adair</a><br /><a href="http://juninhoholandacrente.blogspot.com/">Juninho Holanda</a><br /><a href="http://luelena.blogspot.com/">Luiza Helena</a><br /><a href="http://felinodamadrugada1.blogspot.com/">Mari Amorim</a><br /><a href="http://taniazotto.blogspot.com/">Tania Zotto</a>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5307010052545615209.post-57379254488911770192009-01-24T14:14:00.000-08:002009-01-26T01:11:10.803-08:00Armados Até os Dentes<div align="center">.</div><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLUvQRSaQP8ZwiIpUgnoMrz-IARTUr7G5P4jO8Afc3nCgvNwo0c1YCuLvLbJBbxp3e7-iU8oJbzOql6rEreA7A9MU3YkUTFXewYAHLvVzI4Gh8-ZMZA5E8jHNioc7-j86_79xO7urStn7y/s1600-h/sorriso.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5294995955836305170" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 190px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLUvQRSaQP8ZwiIpUgnoMrz-IARTUr7G5P4jO8Afc3nCgvNwo0c1YCuLvLbJBbxp3e7-iU8oJbzOql6rEreA7A9MU3YkUTFXewYAHLvVzI4Gh8-ZMZA5E8jHNioc7-j86_79xO7urStn7y/s320/sorriso.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">[foto: um sorriso, caso você não saiba do que se trata, ou não se lembre.]</span><br /><br /></div><div align="center"></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify">Nosso plantão é de vinte e quatro por setenta e duas horas. Isto significa que após vinte e quatro incessantes horas de trabalho, a folga se estende por três dias. Para alguns fiscais, como Marcos, esse é o único lado bom de se trabalhar no plantão. O estresse que sofremos dos passageiros tiraria, segundo ele, a graça de trabalhar com a fiscalização aduaneira. Também tenho sofrido muito com esse problema e, até então, não havia conseguido uma fórmula segura para mitigá-lo.</div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify">Início de plantão. Deparo-me com os fiscais Magalhães e Maria Elena. O estado de animação de Magalhães, frente ao ar cansado de Maria Elena, não me deixavam dúvidas sobre quem estava assumindo o plantão, e quem o estava deixando, já tendo cumprido as vinte e quatro horas de batente. Perguntei a uma circunspecta Maria Elena como tinha transcorrido o trabalho. Ela disse que tudo bem, que não havia sofrido muita amolação por parte dos passageiros, que havia dado <em>sorte</em>, portanto. </div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify">O sábio e sorridente Magalhães, porém, intervém.</div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify">- Isso não tem nada a ver com sorte. O clima, se de bom humor ou de estresse, no atendimento, vai de nós, fiscais, e não dos passageiros. Eles apenas refletem o que emitimos para eles.</div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify">Deu um estalo. Puxa, é isso. Mas como seria? Então passei a questionar Magalhães, fiscal com quem ia trabalhar as próximas vinte e quatro horas. Ele, ainda sábia e sorridentemente, prosseguia.</div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify">- Pense bem. O passageiro está ali. Enfrentou dez, doze, quinze horas de vôo sem conseguir esticar as pernas. Está sonolento e todavia o dia não se desfez em noite, para dar-lhe o merecido descanso, por culpa do fuso horário. Chegando aqui, enfrentou a má educação de outros profissionais que o atenderam. Extraviaram-lhe a bagagem, os familiares que vinham buscá-lo não vieram. E como se não bastasse, lá está a Alfândega, que veem não como um lugar em que se regularizam perante a lei os seus pertences. Veem-nos como uma ameaça ao seu patrimônio.</div><div align="justify"><br /></div><div align="justify">Como receber um passageiro assim? - Ele me pergunta, como um professor que espera, de seu aplicado aluno, a resposta correta e a lição aprendida.</div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify">- Com um sorriso estampado no rosto e um "Boa noite!" - arrisquei.</div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify">- Isso mesmo, Joeldo. Precisamos cumprir a lei, claro. Já fazemos coisas ruins demais, pelo menos aos olhos do passageiro. Assim, não temos motivo nenhum para fazê-lo de cara fechada. Veja que, como fiscais, fazemos tudo ao contrário do que nossa mãe nos ensinou.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><p></p><p>- Como assim? - continuo a cavucar Magalhães. - Coisas ruins, que nossa mãe não nos ensinou?<br /></p><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">- Isso mesmo. Nossa mãe nos disse pra não falar com estranhos. Porém, isso é o que fazemos o tempo todo. Abordamos gente que nunca vimos, gente que sequer fala nossa língua. Mamãe nos diz para não mexer em coisas alheias. E somos obrigados, por lei, a virar e revirar bagagens, jóias, valores, o tempo todo. Ou fazemos isso ou não somos fiscais. Assim, prefiro fazer tudo de bom humor, transmitindo energias positivas para o passageiro. Desta forma, conseguiremos cumprir a lei, sem estresse, e sem contratempos maiores do que a lei exige que causemos.<br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Sábio Magalhães. Decidi, então, me armar. Até os dentes, literalmente. Sou sorridente, não sou sisudo. Um sorriso não nos compromete, não nos envolve emocionalmente. Mas ele pode trazer o passageiro para nossa causa. É um divisor de águas. Então decidi que nenhum passageiro iria passar por mim, sem ter recebido um sorriso, um cumprimento, uma indagação de como foi a viagem. E ver no que dá.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><p></p><p></p><div align="justify">No começo foi estranho. Acho que mais para os passageiros, do que para mim. Alguns pensamentos que pude ler, diziam: "Será que está louco?" "Ih, acho que bebeu antes do plantão." "Sei não, esse fiscal está querendo alguma coisa."</div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Aos poucos, acostumei-me com essas reações, e contra-atacar. Claro, pois como o sorriso é uma arma, armas exigem posições específicas de ação, pois há o revide, o contra-ataque. Usado corretamente, o sorriso é mais ou menos como um raio paralisante - traz automaticamente para o seu lado quem recebê-lo.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><p></p><p></p><div align="justify">Aos poucos, os passageiros foram respondendo. Sorriam também. Alguns poucos não sorriam, não esboçavam reação. Às vezes um muxoxo, um olhar cínico. Aquela energia ruim ameaçava me embotar. Virava o rosto, pensava em algo bom. Voltava-me e despedia-me do passageiro com o mesmo sorriso, que seguia em frente como se fosse mais um navio inimigo, que desistira de fazer guerra ali, dada a intensidade do fogo com que foi recebido.<br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Com isso, descobri mais um poder - o sorriso funciona também como um detector. Consegue identificar rapidamente gente mal-intencionada. Pessoas "do mal" não sorriem.<br /></div><div align="justify"></div><p></p><p>E tudo transcorria naturalmente. Apreensões, impostos pagos. Tudo na mais absoluta normalidade. E, desta vez, sem estresse.</p><div align="justify"><br /><br />Aproximava-se o final do plantão. Chegava o temível vôo da ZAP. É a prova de fogo, pensei. Qual nada. Consegui desarmar duzentos e dezesseis passageiros. Nove apreensões, dois pagamentos de impostos. E todos que saíam, nos agradeciam por termos feito nosso trabalho.<br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Ao final de mais um sol e uma lua de trabalho, Magalhães me cumprimenta. Disse que nunca havia trabalhado com alguém tão alegre, sorridente, festivo. Apenas me espelhei, pois, de fato, a alegria e animação que vêm dele, não me permitiriam mais distinguir, naquele momento, se ele estava saindo ou chegando no plantão. Magalhães nunca muda. Sempre armado até os dentes. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div>joeldohttp://www.blogger.com/profile/11465727720031546871noreply@blogger.com15